segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

O Brasil nação - v1: § 24 – E o malogro dá em confusão... - Manoel Bomfim

Manoel Bomfim



O Brasil nação volume 1





PRIMEIRA PARTE
SEQUÊNCIAS HISTÓRICAS



capítulo 3
o novo malogro






§ 24 – E o malogro dá em confusão... 




Em todo caso, o aranzel do Sr. Moreira Azevedo aproveita à verdade: o que não é declamação estulta e choça; onde há razão, essa está com os exaltados. Como podiam eles aceitar o termo da revolução, se não se realizara nenhum dos motivos essenciais dela? Esse tudo, de que o frustro historiador enche a boca, era o mínimo, reclamado pela revolução: precauções contra os constantes inimigos da nacionalidade, eliminação da vitaliciedade do Senado, do conselho de Estado, e do monstruoso poder moderador; era a federação... Os revoltados de julho facilmente são dominados, porque não são, de fato, facciosos, mas – desorganizados reclamantes. Contudo, não se calam as reivindicações de que eles são vozes: um ano depois de 7 de abril, o mesmo Frias, que arrancara a abdicação, está a frente de outros revoltados contra a moderação embusteira e corruptora. Na praça pública, foi lida uma proclamação que

declarava: destituídos os regentes Lima, Costa Carvalho e Bráulio, nomeando-se para substituí-los Antônio Carlos, Paes de Andrade e Pedro Maynard; dissolvida a Câmara dos deputados; extinto o Senado, e convocada uma assembleia constituinte para decretar as reformas de que o país carecia, como complemento da revolução de 7 de abril, que, no dizer dos revoltosos, o partido moderado procurava nulificar nas suas tendências e efeitos necessários... 112

Mesmo na pena de um Pereira da Silva, os motivos do movimento eram justíssimos, mas os arranjos são falhos, confusos, incongruentes. Porque o trêfego Antônio Carlos é oposição aos


112 Op. cit., cap. I.


moderados, os exaltados admitem levantar o seu nome, e daí resulta a acusação que lhes foi assacada – de terem feito fusão com os caramurus... Não há, disto, outro indício;113  mas isso foi o bastante para tisnar a política sã e sincera dos exaltados, que, desse momento em diante, são, apenas, pretexto para ostentação de força dos seus adversários. Começa, agora, a ação subversiva dos restauradores, bem mais perigosos e maléficos, porque têm o apoio tácito ou explícito da massa dos lusitanos do Rio de Janeiro. Com isso, a capital se tornou o centro da agitação reacionária, ao passo que o resto do Sul era dos moderados, assim como nas províncias do Norte se repetem os reclamos dos exaltados. Essa é a história dos movimentos em que se agita aquela parte do Brasil. No Pará, são radicais rebelados contra a tirania de Andrea, finalmente deposto pelo povo em confraternização com a tropa; no Maranhão, é um movimento essencialmente democrata-nacionalista: a respectiva proclamação pedia


a suspensão imediata dos vários funcionários portugueses, a eliminação dos postos que ocupavam, nas forças de primeira e segunda linha, de todos os portugueses, a privação dos respectivos empregos, civis e de justiça a vários portugueses notórios, a proibição da imigração portuguesa, exceto os artistas e artesãos...


No Ceará, revoltado com os mesmos intuitos, reclamava-se: expulsão dos portugueses – dos cargos civis e militares, a federação,



113 Passado o incidente-Frias, nunca mais se apontou aproximação entre exaltados e caramurus. Tudo não passou de exagero de Frias – a querer mostrar imparcialidade, no momento de consultar a nação; a menos que não fosse uma aproximação provocada pelo próprio Antônio Carlos, o mesmo que passara de republicano de 1817 a partidário da união com Portugal, para ser, depois, antiportuguês, e, depois, caramuru e, depois, liberal ao lado de Paranaguá... Pereira da Silva, insuspeito, afirma que não houve fusão dos exaltados, com os caramurus, nem era possível... (De 1831 ..., pág. 59).


a anulação da devassa contra os exaltados do Rio de Janeiro... Em Pernambuco, dadas as suas tradições, o movimento de 1831 foi mais veemente e temível, repetindo-se em manifestações violentas e intransigentes (setembrizada). Pediam os revoltosos: demissão dos funcionários portugueses, expulsão de alguns indivíduos dessa nacionalidade, ostensivamente inimigos do Brasil, proibição do desembarque de portugueses, exceto artesãos, capitalistas, arrecadação das armas em poder dos adversários... Pelo mesmo tempo, com os mesmos motivos, insurge-se a Bahia, reclamando: demissão do comandante das armas e vários oficiais portugueses... Nessa ocasião, quando procurava serenar os ânimos aos mais exaltados, foi novamente preso o inveterado mártir do radicalismo brasileiro – Cipriano Barata... E com isso, pois que os exaltados nunca se organizaram para a luta civil, ficaram os moderados incontestáveis senhores dos destinos desta pátria, na posse garantida de todos os proventos do mesmo senhorio. Fechou-se, em 1832, a era dos levantes provocados pelo malogro de 7 de abril.114 Os caramurus fizeram a sua manobra com o aventureiro alemão Augusto Honser (Barão de Bulow), e são mais facilmente abatidos do que os desorganizados republicanos.

114 Depois de julho de 1832, não mais houve levantes no Rio de Janeiro, por parte dos exaltados. Todas as turbações, aí e nas províncias, de então em diante, foram produzidas pelos reacionistas, animados pelos moderados.


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"Morreu no Rio aos 64 anos, em 1932, deixando-nos como legado frases, que infelizmente, ainda ecoam como válidas: 'Somos uma nação ineducada, conduzida por um Estado pervertido. Ineducada, a nação se anula; representada por um Estado pervertido, a nação se degrada'. As lições que nos são ministradas em O Brasil nação ainda se fazem eternas. Torcemos para que um dia caduquem. E que o novo Brasil sonhado por Bomfim se torne realidade."

Cecília Costa Junqueira



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O Brasil nação: vol. I / Manoel Bomfim. – 1. ed. – Rio de Janeiro: Fundação Darcy Ribeiro, 2013. 332 p.; 21 cm. – (Coleção biblioteca básica brasileira; 35).


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O Brasil nação - v1: § 25 – A política da degradação – 1831-38-40... - Manoel Bomfim


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