terça-feira, 3 de novembro de 2015

Histórias de avoinha: uma garrafa de vinho e um naco de queijo


Ensaio 65B – 2ª edição 1ª reimpressão


uma garrafa de vinho e um naco de queijo


baitasar


a desavença entre os bode do couro e do charque com os monarquista do pelame eriçado tinha uma grande chance de acabá em luta. Num devia sê assim no meu entendê, e tumbém no entendê de munto mais entendedô silencioso, mais do jeito qui ia nem o tempo nem o vento resolvia. Num importava as razão. A briga dos estancêro do charque e couro contra os qui achava bão como tava chegô na irmandade. Os bode chefe num tava conseguindo segurá os bode descontente dos dois lado. Dois lado. Os contra e os a favô. A villa tava enfraquecendo. Uns fechava os óio, otros num queria escutá. Os qui num fechava os óio tava surdo, os qui ouvia tava cego. O siô conde humaitá resmungô no meio dos dente, Bestice. Essa gente dona do mundo tem muito, mas vive chorando que tem pouco...

foi tê acabado de dizê e sentiu os arrepiu do pelame encrespando, falô além da conta. O teiado do siô conde era feito com vidro. A vidraçaria num era estreita nem franzina, mais aquele destrambêio da pavonice podia provocá rachadura. Precisava aprendê guardá a língua pru seu próprio divertimento e prudência de proteção. Os dono do mundo é hôme de posse com fortuna qui num é declarada e otra posse maió de fortuna qui fica escondida. Eles compra tudo e todos qui tem preço. E os qui num tem preço eles desacredita. Enxovaia. Acusa sem prová nadica de nada. Fica só no disse num disse. Prová num interessa. Nada interessa. Só eles interessa. Inté fazê desaparecimento. O siô conde humaitá num queria ficá de alvo. Queria tê dito o qui disse e num queria sê ouvido, mais foi. Ficô no prejuízo da língua maió qui o tamanho do céu da boca. O siô humaitá tem bão entendimento qui a prudência é o cuidado primêro no ninho das cobra. Chamô atenção dos bode. Jajá, o castigo ia chegá. Precisava agí pra desmanchá a desconfiança

o magistrado juiz qui escutô sua bisbilhotice deu um passo na sua direção e perguntô cara a cara, tão perto ficô qui o siô humaitá sentiu o gosto do vinho de bode e as gota do gosto qui chuviscô do magistrado juiz, o dominadô das lei usô a voz mais grave qui sabia fazê

E vosmecê, Conde? É a favor do imposto cobrado no comércio do charque e do couro? O Conde Humaitá também concorda que os platinos avançam com rapidez de rapina sobre o nosso comércio? Abra o coração para os seus irmãos!

os bode qui ele representa num vai mudá os hábito nem transformá o mundo, só pensa no mundo dos bode. O siô conde precisava equilibrá e pensá mais rápido qui os bode daquele ajuntamento de maldade. Num havia refúgio seguro. O salão aguardava as palavra do recém chegado. Sentiu qui as vista de espiá e os ouvido de espreitá tava tudo virado pra ele. Num gostava do interrogatório feito nele. Podia sentí uma enorme parede nas costa empurrando. Tinha percebido qui os bode repete os bode, eles num pensa. É tudo decorado. Num era um bode véio, sabia qui festejá a vida e esperá qui ela fique repleta de sabores e saudável precisa tê pensamento plantadô de ideias, mais se o qui o bode pensa num é o qui o bode pensa ele num tá pensando. O bode só decorô as preocupação, os juízo, as ideia, a imaginação, a opinião e os propósito dos otro bode. os bode chefe. Perdeu as lembrança dos próprio pensamento. Isso é uma prisão difícil de vê e creditá qui é o qui é: uma doença grave qui afeta todos os bode e os não-bode, pensá pelo pensamento dos otro bode

Então, Conde? O que nos diz?

direto e sem desvio. Os bode tinha concentrado atenção no siô conde. O pântano dos interesse contrariado dum lado e otro era pegajoso. Grudava como os namoro novo, o tempo todo

Não me entendam mal, mas acredito que tudo se resolve com as doações ficando mais fortes.

desgostô os dois lado, mais fez o contentamento do siô padre. Num tirô a máscara nem colocô o chapéu, mais se curvô aos costume dos bode: bode é correto com bode, pode agí contra as lei, mais num vai contra os bode nunca. Jamais. Os peito estufado dos bode desavolumô. O assunto daquele encontrão secreto voltô pras dormente do trem da doação. Ficô decidido qui, daquele dia pra frente, o obrêro chefe tinha o devê do próprio ofício de fazê o registro dos donativo com o nome dos doadô. Assim, o fingimento de dizê qui deu o qui num deu ou oferecê e num cumprí, ia tê recibo

E quem vai vigiar o obreiro-chefe?

a purugunta agitô os bode

O sinhô Padre é que vai ser, mas não devia ser.

mais agitamento

no meio daquela vozearia babando zanga cismada ou pouco depois, num se sabe bem quando, o siô conde humaitá sumiu. No jeito qui deu, caminhô com os passo de corrida inté a rua dos pecado. Precisava tá num lugá de mais alegria e confiança. Respeitava a casa dos gracejo desavergonhado. Lá num tinha luxo, mais oferecia discrição decência recato. Começava com timidez sua chegada, mais depois pendia pra sem-vergonhice. Conhecia maria cobra. Gostava da prosa e da descuriosidade da muié pecadora num fazê purugunta. Num usava disfarce de sê o qui num era. Ela sabia o qui era, Sou puta! E gosto de ser bem cuidada, lhe serve assim? Não preciso da sua sujeira. Você serve e eu bebo. Não gosto de passar fome, por isso vosmecê paga para sentir meus beijos no pescoço, minhas mãos na nuca e minha língua monótona esparranada em seu corpo. Vosmecê paga e abro minhas entranhas. Não me provoque para começar antes do meu querer. Eu gosto do sabor da vitória. Vosmecê está pronto?

era a última purugunta qui lhe saia da boca antes de aceitá serví de alívio

Peço desculpas, se alguém lhe faltou com respeito.

a moça puta já tinha sido engolida e vomitada, mordida em pequena fatia por piranha. Num se tratava de sê comida, mais como sê comida

Meu Conde, somos um negócio ilegítimo. Por isso, somos uma afronta. Uma imoralidade. Vai chegar o dia em que irão querer algum sinal. Algum aviso na testa: puta!

um lenço no pescoço

o siô conde humaitá sabia. Num precisava puruguntá. Escutô do siô padre qui a vereança da villa já tinha aprontado a nova lei dos bão costume, chamada lei dos pecado podre das carne fraca, Sinhô Conde, as prostitutas terão que usar um lenço amarelo sempre que saírem à rua.

Isso não vai significar nada, Maria Cobra.

Talvez para o sinhô Conde não signifique nada, mas para nós será como uma cicatriz na testa. Uma marca de ferro em brasa.

o siô conde soltô uma gargaiada

Ria se quiser, mas é atrás das minhas entranhas que vosmecê corre.

e foi o qui bastô pru amarelo sumí da moda nas dominguêra. A procissão das muié na moda abandonô o amarelo do comércio. As moça lôra tava correndo perigo de sê usada e largada. Quem gostava do amadurado amarelento passô a desencorajá do gosto. A cô do ôro sumiu das rua, mais teve caso contado e descontado pra maria cobra. Os caso dos marido qui parô com as visita da casa purqui as esposa passô usá o amarelento no quarto nupcial. A primêra razão dada pru uso foi que as vestimenta já tava comprada e num dava pra desperdiçá. Depois veio o costume do gosto e a alegria das bobagem feita na cama. No dizê dos confidente, a cô gemada soltô a imaginação qui tava presa

nas rua dizê grosseria cômica do uso do pano alôrado e das moça lôra virô siná da esperteza dos hôme: macho de verdade precisa comê as preta e as lôra; quanto mais serviço feito meió ficava nos comentário dos cavalhêro valentão. Foi quando maria cobra pintô os cabelo preto com a cô mais alôrada qui achô. Parecia qui o sol brilhava da cabeça da maria cobra. Os bão chefe das família respondeu o atrevimento: as muié lôra com comportamento de família precisava fazê o tingimento dos fiu amarelado e deixá cada fio na cô marrom ou vermêia ou preta. Num podia continuá lôra. O preço das tintura subiu. Lei da oferta e da procura, dizia os comerciante. Lei da usura, desafiava os compradô necessitado. O pecado da tirania do lucro e dos costume do diabo, repetia o siô padre, O demônio não está na cor dos cabelos nem na cor da pele.

o siô padre tinha um qui otro rompante nas ideia qui fugia das ideia do seu tempo, mais era só rompante, num vingava além disso. Acatava qui a rua dos pecado num era lugá prus hôme bão e o amarelo num era cô honrada. Era cô de muié fácil

maria cobra voltô desafiá e pintô as unhas dos pé e mão com amarelo dôrado, depois usava nos lábio a cô brilhante do sol. Os hôme esperava a aparição da maria cobra pra dá as ordem de uso das muié da casa. As muié direita num desacatava. A obediência da lei havia de caí no desuso, mais inté lá num era bão arriscá. A villa tava com abuso de estoque dos pano dôrado. O amarelo foi asilado. Munto mais havia de se passá inté o gemado recuperá o seu prestígio com as siás da villa

pelo visto, as história do pescadô qui terminô na cruiz num tinha munto valô na villa enquanto os dono da razão num tê interesse. Gente qui sabe e pode tudo. Ocê lembra das história da primêra pedra qui num foi atirada? Mais uma história qui a gente boa resolveu esquecê. É assim, mifioneto, esses qui sabe e pode tudo é duro e exigente com as coisa qui incomoda seu conforto. Mais tumbém é tolerante piedoso e mole com as coisa qui faz os endinhêrado ficá mais abastado. Eles nunca vai permití sua alegria se a alegria custá o podê deles sê dono do mundo. As muié direita tinha os mandamento dos hôme pra cumprí. Uma das regra ensinava se protegê da aglomeração desleal das muié qui num era honrada e ajeitada, Sinhá Casta, essa gente mistura poesia com cachaça!

num teve jeito, as puta passô usá o lenço amarelo pra caminhá nas calçada. A crisma pública das puta. Assim, todo mundão bão da villa, gente qui pode tudo e sabe tudo, mais o subalterno do pai fiô e espritu santo, qui já devia sabê da lambança toda, é o dono de tudo qui criô tudo, devia desviá dos perigo qui elas carregava entre as coluna e os passo qui dava. Os hôme da villa queria as muié amarelada, mais num queria os perigo daquelas muié qui trabaia nua. Se trabaia deitada é puta, era o qui se dizia

uma qui otra calcinha rendada num podia espaiá sofrimento nas família de fortuna. Uma veiz qui é puta pra sempre vai sê, nunca vi endireitá. Era otra das coisa qui se dizia. As muié direita num devia fazê visita nem convidá como visita. Num havia propósito de conversá uma com a otra. Elas lá, siás cá

Maria, por sorte e competência do seu talento, os homens das leis são clientes da casa. Experimentam os dois lados.

Sempre trabalhei ilegal. Eles fazem as leis e nós ensinamos o jeito de pular o cercamento. É só fechar uma das vistas.

o siô conde acarinhava com a ponta dos dedos as perna da maria cobra, depois subia receioso inté passá as dobra do meio

Posso lhe perguntar uma curiosidade pessoal?

Pergunte o que seu coração lhe manda perguntar.

A Maria Cobra goza ou se faz de gozada?

a muié qui num cegava pediu mais vinho. O raposa apareceu e saiu. Depois voltô com o poesia, uma garrafa de vinho e um naco de queijo. Largô o prato e a garrafa no chão. Os dois tava rente do piso. Serviu a caneca da maria e do siô conde, num esperô consentimento. Saiu do lugá levando poesia balançando o rabinho. A muié esperô o siô conde lhe alcançá a caneca. Tomô o vinho num só gole. Foi servida de novo. Mordeu o queijo e se ofereceu pru siô conde

Vosmecê sabe como eu gosto de ser usada, mas os homens não se impõem na minha vida. Isso não é um dilema é assim que eu quero. O que mais gosto é saber que o cliente está gozado. Esse é o meu trabalho. Gosto do meu trabalho.

o siô abocanhô otro pedaço e derramô o vinho boca pra dentro

Como vosmecê sabe que eu gosto?

ela lhe deixô vê o sorriso maroto

Vosmecê volta... não volta?


Não devia...

ele lhe deixô vê o seu


a muié continuô o palavrório, Quando duas pessoas estão com a vontade da cama é muito íntimo e romântico. Não é apenas volúpia e comércio. Mas não precisamos achar que é amor. Gosto de saber que os homens ficam atraídos por mim. E as mulheres, também. E quando vale a pena deixo que me digam o que devo fazer. Aprendi que o amor é um fantasma que assombra e some.

otro pequeno gole da caneca, Nunca desejei ser homem: los hombres matan la vida que las mujeres crean, soy más qui hombre y menos que dios.

o siô conde sentiu o gosto do mofo na boca, maria cobra num era uma vigarista exótica. Ela num tinha medo. Ele tinha medo daquela muié e do seu perfume barato, Vosmecê não me respondeu.

O que me deixa arretada é sentir o cabelo do homem na minha pele.

Fico acesso só de pensar.

O siô conde é muito doce no gosto e com as palavras, mas não sabe o que estou pensando. O que eu gosto? Mais vinho. Quero mais vinho!

o siô se virô e pegô na garrafa. Ofereceu pra maria cobra. Ela aceitô o oferecimento assanhado. Levô a boca da garrafa inté quase a garganta e aproveitô o vinho qui se derramava. Provocô uma ânsia de vômito e deixô o vinho lhe escorrê nos canto da boca aberta. Desceu escorrendo no pescoço inté a bacia das intimidade. O hôme colocô a cabeça no caminho do vinho. Tomô e lambeu e gemeu e sorriu

Eu adoro a enxurrada das vontades que vosmecê me provoca.

O siô Conde está gostando de matar sua sede?

É divertido saber o que a moça me serve. Parece que Maria Cobra gosta de ser bebida como vinho.

ela pede que ele mostre seu corpo, Desabotoe um pouco e liberte a pele.

ela é tão muié, ele tão duro

Que delícia querido. Vem querido... minha nossa senhora!

Como a moça gosta?

Ei! Calma! Às vezes, é bom lento e suave. Outras vezes, rápido e forte. Mas precisa ser atencioso.

pouca cousa assusta maria cobra, mais nada a derruba. Quando num sabe se tá subindo ou descendo e a dô aumenta, ela se esforça mais, Eu aguento! Coloque tudo aqui dentro...

sente qui precisa tê uma qui otra afinidade, quando num tem fica com medo de virá um animal. Um buraco sem passado. Ela deseja as coisa qui as esposa diz qui faz com a alma e o coração, O siô Conde precisa dormir. Feche os olhos.

ela já tava fria. Desatisfeita. Desatenta. Sonolenta e longe, Eu quero ser cuidada, mas o siô não vai me cuidar.

o mundo das puta num dá voltas, elas num finge dizê alguma mentira



______________________________

Leia também:


Histórias de avoinha: a lenta eternidade de num sê mais
Ensaio 64B – 2ª edição 1ª reimpressão


Histórias de avoinha: onibàtà, sapateiro: é bão tê obrigação de respeito com os espritu
Ensaio 66B – 2ª edição 1ª reimpressão

Nenhum comentário:

Postar um comentário