domingo, 18 de outubro de 2015

Teatro Pedagógico: a alegria é o recreio

Parábolas de uma Professora



a alegria é o recreio


baitasar e paulo e marko




sinto a falta entre meus dedos da pequena mortalha branca. sem discursos, por favor. sei que é importante o ato de ouvir, mas é tão chato e distante. minha escolha. e também nunca me pediram de verdade para parar, não iria adiantar, mas seria uma tentativa

Formadores de opinião têm espaços diários em jornais, rádios e televisões, para dizer ou silenciar ao seu bel-prazer, arbítrio que se auto-determinam pela sua profunda corrupção sobre os conteúdos e conceitos que lhes soar melhor aos olhos do bom emprego, bom salário, visibilidade, soberba. Eles têm patrão. E formam nossa opinão, queiramos ou não, você ouvinte, espectador, leitor. Cada vez mais, a cada jornal lido, escutado ou visto, está difícil encontrar o descompromisso com o poder econômico. Nada para estranhar. Nós mesmos brincamos de dinheirinho e premiamos com dinheirinho em sala de aula. Está cada dia mais difícil deitar para dormir seus próprios sonhos sem desejar o dinheirinho.

Isto está parecendo palanque político panfletário. Cabaýba avisa ao Marko que aqui não fazemos política, somos neutras.

Professor Marko, a nossa realidade opressora não é obra do acaso, nem se transforma nas mágicas e juras de amor ou promessas no palanque eleitoral, precisa da mão forte e decidida de homens e mulheres, com a vontade histórica da libertação de si e de nós, seus opressores e suas opressoras.

constituir-se na libertação do outro recria o sonho da esperança e requer toda nossa vontade e toda a ação na transformação diária da realidade, na direção da reflexão ideológica humana, eis inserção política da formação social de homens, mulheres e crianças. não podemos nos libertar na neutralidade. somos dominados quando nos anulamos em posições neutrais, esquecidas da cooperação, colaboração, companheirismo. amordaçados e inutilizadas de qualquer serventia, tornados solitários não porque vivemos em solidão, mas que somos impelidas a procurar o isolamento da solidão. os homens e as mulheres produzem esta realidade em coordenação de comunicação estrábica e longe do sentido de comunidade raiz, que nunca é neutra, mas ideológica na construção destes mesmos homens, mulheres e suas crianças

Não somos felizes porque simulamos a felicidade em oratórias vazias de conteúdo humano ou porque ficamos em silêncio aprendendo através de discursos que nos querem desumanizados. Mas, afinal, nos dias de hoje, o que é ser humano?

Marko, não somos felizes por decreto, mas nas realizações coletivas e humanas de toda uma vida. Temos que cortar laços e amarras num cotidiano de reflexão e ação histórica permanente, sem tréguas ou arreios. É uma tarefa a ser realizada envolvendo muitas dificuldades e muitos esforços. Sair da posição professoral e neutral dos conceitos exige mais que a força física dos deuses olímpicos ou planejamento muito bem pensado e competente, a sensibilidade humana prescreve a necessidade da vigília permanente na superação da gordura do conforto, da estabilidade e da imobilidade dos desejos perdidos, e até mesmo desconhecidos.

Paulo, precisamos oferecer o coração...

Isso, Marko. E perceber que estamos no mesmo espaço em um tempo que corre mais do que podemos vivê-lo, temos que ser diferentes e fazer a desconformidade nesta convivência veloz, parando para uns goles de chá verde tradicional. O tempo que espere.

Mas... Paulo, eu preciso dar minhas aulas! E fica tudo muito cansativo no meio de tanta confusão, é extremamente difícil..

Para quem, Desirée?

pergunta uma lia nervosa, interrompendo a bela desirée, que já está um tanto de tontinha, aturdidinha

Para mim, claro! E para os alunos que querem estudar. Fico esgotada tentando organizar alguma coisa dentro do caos do pátio, fica muito difícil. No fim, o dia quase deixa de existir.

coitadinha, nunca se queixa e quando se anima a dizer algo do seu desgosto acontece essa muvuca

Eu gostaria de pensar e refletir o ‘por quê’ dos nossos alunos e das nossas alunas preferirem o pátio às nossas aulas...

A alegria é o recreio.

Para todos.

Como se para os alunos o recreio fosse o tempo necessário para o espanto e a vertigem. E para nós, o intervalo de uma batalha.

até agora em silêncio, a camila parecia querer respostas sem se expor muito, mostrava parte de seu pensamento, tímida e sem vontade de entrar em uma disputa sinuosa e nem sempre clara e transparente, se deixava na maioria das vezes ficar escutando e observando, como eu e o professor do corredor

Talvez, estejam acostumados e cansados de atividades que só fazem passar o tempo, mas esgotados de pedir socorro. os pais os colocam na frente da televisão na esperança que não incomodem. Ou abandonam. Os professores mandam abrir os livros na página tal e querem tais e tais exercícios prontos, ou repletam o quadro com atividades para serem copiadas. A expectativa do silêncio dentro da cópia. O desejo da inanição em uma prostração causada pela falta do alimento criador da novidade, formador da necessidade. No pátio estão jogando bola, correndo atrás de uma bola, chutando uns aos outros. Gritam, xingam uns aos outros, podem abraçar e empurrar. Ou pular corda. Ou sentar esperando o tempo passar olhando o movimento do pátio, sempre mais interessante e vivo que o mormaço da sala de aula.

enquanto lhe houvesse interlocutores a lia não parecia querer alguma trégua, assemelhava-se com uma metralhadora giratória disposta à luta verbal

Também não consigo entender o que acontece, Camila!

Todos estão fazendo o seu melhor, queremos transmitir os conteúdos das nossas disciplinas, temos anos de prática... mas esses pobrinhos não escutam.

abigail se mostrava tonta e torta nas suas tentativas de pensar o seu fazer, perdera o fio do prumo, davam-lhe tijolos muito diferentes para a construção do muro. tinha desde os maciços até os furados, barro, argila, queimados, não sabia mais o que fazer, pois a massa que tinha em mãos não era suficiente para assentar e corrigir defeitos de fábrica

Anos de uma prática que aprisiona! A nossa prática não os aproxima de nós, mas re-força a idéia de ser menos... de serem menos que nós! Os afastamos porque estão enfermos, querem ser crianças! Na verdade, a doença está em nós, na maneira defeituosa como fomos formados e educados. Seguramos entre as mãos os nossos atos diários de educar e ensinar de longe, apenas olhando e discursando e avaliando para reprovar. Nossa formação humana e nossa formação pedagógica estão voltadas para cumprir e fazer cumprir.

Lia, somos as marionetes que transformam a todos em bonecos, que se repetem indefinidamente não conseguindo se humanizar.

Marko, estamos formatadas e conformados, não sabemos mais nem chorar os fracassos de nossos alunos. Cada vez mais nos parecemos aos médicos legistas diante de um cadáver, fazendo piadas e jogos de cena, negando a morte que nos chega pelas narinas, pelos dedos, pelo pó de giz e pelas tendinites de muito escrevermos no quadro de giz. Possuímos ombros, cotovelos e punhos inflamados por esforço repetitivo, vinte e cinco anos escrevendo e escrevendo nos quadros de giz, e em não podendo fugir mostramos que a tudo já nos acostumamos.

Fomos derrotados, mas estamos caindo atirando! Tudo que se vê é!

Querida Lia, eu não teria dito melhor. Como é fácil esquecer que não se ensina sem aprender com o outro. Não se educa ninguém, mas educamos uns aos outros e outras, deixando de lado o cinismo e a arrogância de um saber vazio, que não educa, apenas ensina.

Paulo, estamos transformados e transfigurados em uma usina colossal de reprodução metódica, em alguns momentos até choramos de padecimento.

Chegamos a sentir algum constrangimento, mas não aprendemos de humanidade, não provamos o sabor de pêssegos em chás, nos momentos de esperar o tempo passar. Não nos reconhecemos com amorosidade, nem reconhecemos no outro um sujeito concreto que quer apenas ser feliz, mas estamos cheios de piedade. Já internalizamos o cinismo nas piadas e parábolas que reconfortam e neutralizam o jogo dos fatos e as dores cotidianas que nos consomem.

Mas por que a juventude não trás junto um professor novo? Ou uma professora nova? Homens e mulheres carregados com a ideologia da libertação dos homens e das mulheres, uma ideologia de vida impregnada de sonhos de mudar!

Ingênua, tu és, Abigail, se continuas a pensar que o novo chegará através do mais jovem, do mais recente ou do mais atraente. Vêm peritos ou adestrados em ensinar.

Talvez, quem sabe, porque a escola formadora do novo continue convencional, permaneça velha, sem balanço, vaidosa, fazendo plásticas e usando muitos cosméticos na tentativa de dizer e se acreditar que, em todo caso, também, ensina para os miseráveis e excluídos. Esta é sua provocação, pois diz que mudou sem mudar. Sua mudança é apenas aparente, quando muito é somente um mudar pontual. Este ou aquela professora que sabe onde está a própria coragem, se arrisca e sai da vida fácil, diminui os discursos, arregaça as mangas, se assume na concretude de um mundo humano em plenitude, no show de amor ao próximo e a si mesmo.

Mas o quê ensinar se nossos alunos não querem aprender nada do que queremos lhes ensinar?

reclama uma ofélia entediada

Ensinar não é a simples transmissão do conhecimento. Continuo tentando mudar, desta maneira, minhas expectativas mecânicas e técnicas de ensinar. O desejo de aprender não se aprende, preciso sentir que viver me faz feliz. Porquanto estou a todo instante ou momento, aprendendo. Aprendo tudo, inclusive aprendo como aprender sem a arrogância de saber tudo, mesmo quando sei nada ou quase nada. Observo e tomo conhecimento da minha e da tua vida, que se torna nossa vida. Aprendo que reclamar é meu direito de protesto necessário, mas não contém o michê político que vai longe ou fica perto, tenho deveres importantes.

O exemplo pessoal e o diálogo professoral precisam se inserir em uma conversação humana de compreensão, com atitudes que se confrontem com os modos de proceder ou agir que quero denunciar.

Obrigado, Lia, de nada vale discursar contra os congressistas que comparecem ao Congresso Nacional três dias na semana, se na minha prática, no meu cotidiano escolar, meus atos todos se inclinam pela diminuição das horas em que sou professor e que um casarão grande e vazio não me incomoda. Os desvios são acontecimentos permanentes, o que me cabe são as escolhas. Preciso deixar de lamentar apenas do que está longe, fora do alcance imediato, para olhar e reclamar do meu entorno. Ele também se mostra nas pequenas infrações que negam nossa humanidade. Aponto para os alunos e os quero com pontualidade, mas chego sempre atrasado, aponto para as alunas e as quero organizadas, mas onde foi mesmo que deixei meu planejamento? Nem lembro se o fiz. Aponto para os alunos e exijo silêncio, mas como faço para parar meus gritos. Continuo cheio de dúvidas, aponto para as alunas invocando compreensão, mas como faço para compreender quem mantenho a distância? Os nervos enfraquecidos de tanto treino. Sofro dos nervos, me dizem. Preciso parar de apontar para meus alunos, minhas alunas, careço não continuar a rotular todos, marcando-os como gado, que se engorda e também se mata. Ninguém tem o que explica meu coração.

eis o paulo tranqüilo e decisivamente didático, caminhando a estrada da superação ideológica autoritariamente elitista, eis a sua humildade, coerência e tolerância diminuindo a distância entre o que dizemos e o que fazemos

Dizemos que ensinamos tudo sobre os terrenos argilosos, discursamos sobre as suas propriedades e de como é pouco permeável, sua composição, etc, etc, etc, merda, pois desconhecemos de avaliar se o conceito de permeável está apreendido, para compreendermos nossos alunos e o quanto eles já se apropriaram deste conhecimento. Será que sei o que é ser permeável?

Professora Lia, não estou entendendo o que estás querendo dizer.

a abigail das ciências e paciências não se pergunta, nem tenta entender por que estava sendo posta no centro da discussão, a bola da vez

Um educador progressista não pode viver de maneira mecânica a tarefa docente, e quantos e quantas não conseguem ou não podem ou não querem ir além dos acordes de sua disciplina, se impedem de exercer em outros espaços pedagógicos a plenitude do educar o humano que todos deveríamos ter?

Observo as muitas oportunidades desperdiçadas pela nossa desnatureza, ficando escondidos dentro do casarão ou do abrigo, enquanto nossos alunos e nossas alunas estão brincando nos jogos e brincadeiras das aulas de educação física ou no recreio.

Quantos abraços, sorrisos, olhares e conversas poderiam existir entre alunos e professores cúmplices de humanidade? Quanta compreensão mágica da nossa existência se desperdiça em fugas e cansaços e medos?

Meu deus, ninguém vai acabar com isto? Aguinaldo, acho que já chega! Parece jogral de missa!

Todos os espaços da vida são pedagógicos porque sempre estamos aprendendo e ensinando com alguém. Por que não ocupamos todos os espaços da escola com todas as nossas forças? Por que não exercemos com inteligência e emoção nossos encontros entre goles de chá mate, se nossas reflexões não se isolam nem se afastam do convívio social?

em todos os idiomas que a escola tem que falar e escutar, pergunto, por que teimamos em tomar refrigerante

Precisamos parar de dar com o pé no mundo. Nossos pontapés são golpes de fuga. Escolhemos ser professoras e professores ou fomos escolhidos? O que nos impede de brincar, sorrir, dançar, jogar bola, cantar e declamar?

Talvez, o que nos impeça seja o tempo que passamos tristes, talvez, seja tempo demais para se deixar ficar lastimosa.

Ou quem sabe, o tempo das dores nas costas, tendinites, a barriga, as varizes, dores de cabeça, os cabelos brancos, insônia, estejam nos transformando, assim, em professores enfadonhos e professoras aborrecidas. Não consigo ser professor nem de mim mesmo, fico olhando minha vida se esvaindo, aula após aula, dia após dia, em agonia, sonhando com a aposentadoria para então começar a viver.

mas o que farei até chegar meu tempo de viver, suplico, queridos amigos e amigas, quantas de nós conseguem se entender como professores progressistas, mesmo que constituídos naqueles e naquelas que são peritos ou versadas numa ciência ou arte, homens e mulheres superiores e de muito saberes, diretores espirituais, mentores ou confessores, pergunto enquanto escuto vozes que se vão e se vem, nossas cascas depois de rompidas irão expor à vista de quem

Em uma destas tardes chamei alguns alunos que estão com muitas dificuldades para alcançar o selo de aprovação. Somente uma aluna compareceu e desconfio que os demais não nutrem nenhuma esperança de aprovação ou não acreditam em minha vontade ou em minha capacidade para ajudar, mas enfim, começamos nossos estudos. Pedi para olhar seu caderno. Nenhuma surpresa. Quase nada de anotações, mas iniciamos com os seus escassos escritos sobre os terrenos argilosos, humíferos e os aráveis. Estava lendo em voz alta cada um deles, sua composição e utilização, enquanto tentava perceber um sorriso que pudesse traduzir a afirmação, Aprendi professor, nada, muita dificuldade. Voltamos a ler juntas as propriedades das terras argilosas, Os terrenos argilosos são pouco permeáveis, Para, interrompi nossa leitura mecânica e bondosa, perguntei, Tu sabes o quê é alguma coisa permeável, silêncio, dúvidas, sorriso tímido, olhar para as próprias mãos, dedos impacientes, brincando de cruzar e descruzar, separando o que estava cruzado para cruzar logo em seguida, não indo a lugar algum, repetindo, repetindo, insistindo em repetir, Tu sabes o quê significa a palavra permeável, Não. Jogava aos meus pés o que estamos fazendo todos os dias, nada e nada, avaliamos para reprovar.

E o quê tu espera que façamos? O trabalho que não foi feito nos anos anteriores e, mesmo assim, permitiu a estes alunos seguirem sem estarem preparados, sem as ferramentas dos conteúdos mínimos?

somos inúmeros os que se mantém atentos aos conteúdos e ao tempo que precisamos para ensiná-los. pedimos trabalhos ou trabalhinhos para ajudar na avaliação, medir as notas. mas precisamos adivinhar não sabem responder sobre a permeabilidade do solo porque não sabem significar o que é permeável ou impermeável

O quê adianta ditar, escrever no quadro de giz, que terreno argiloso é pouco permeável se o conceito da palavra permeável não foi construído? Não seria mais importante construir este conhecimento antes de tudo mais? Como ensinar conceitos se não sabem nem abrir um dicionário?

Meu Deus, será impossível conseguir argila e mostrar na prática, olhando, fazendo, dar existência e forma a uma caneca, um prato, e derramando água no utensílio mostrar que a argila não é permeável? E acreditas que é somente tarefa da disciplina da língua portuguesa provocar, nos alunos e alunas, a curiosidade, o desejo e a bisbilhotice para descobrirem a vida e a historicidade que existem dentro dos dicionários?

Estamos de brincadeira! Argila com esta gurizada mal educada, desaforada, são pequenos marginais, vão fazer tudo menos o tal prato ou caneca. Dicionário? Não passam da segunda palavra! Não sabem ler.

Já tentaste alguma vez, Cabayba?

Nem vou tentar!

Só para tua mente autoritária o ato educativo é tarefa enfadonha. Não posso me satisfazer ao encontrar um casarão imenso e solitário, imerso no mais profundo silêncio. Alguém que convive harmoniosamente com os interesses populares não pode avançar, caminhando sobre as estatísticas que queimam como brasas incandescentes. Precisamos recomeçar e recomeçar tudo outra vez. Até parece que tudo que foi feito e desfeito foi em vão.

Ninguém espera por ninguém.

Não nos bastam a fé e a oportunidade, todos e todas precisamos começar de novo na alegria até o engaço. Nos semáforos da cidade encontramos placas do conselho tutelar, Pedimos aos motoristas para não darem esmolas às crianças, mas carinho. Resmungo que não lhes bastam nosso carinho, pois têm precisão da comida e água e status dos demais meninos e meninas que carregamos no colo. O moleque quer um tênis e a menina de pouca idade quer o seu lugar no mundo. Falta vontade de fazer diferente ou nosso coração desaprendeu de contar histórias?

soluça meu peito, falo aos gritos, sinto as veias do pescoço alteradas, engrossam junto com a minha voz, carregam a força da minha voz

Não podemos continuar esperando uns pelos outros, comecemos por arregaçar mangas e cantar, como nos diz Gonzaguinha, “a beleza de ser um eterno aprendiz”. Alguém quer entender para nos falar desta história, perguntam meus medos, que apenas desejam um final feliz.

paro. retomo meu silêncio, preciso desengrossar as veias. estou aqui me perguntando até quando continuaremos fazendo somente poeira, produzindo fracassos. este pequeno debate, entre a professora lia e a professora abigail, esta ínfima discussão, que aparentemente nos coloca na cadeira de espectadores, na verdade, nos empurra para o centro da discussão e percebo o caráter de nossas dificuldades. fazemos nosso aluno repetir mecanicamente conteúdos, o obrigamos a cursar, novamente, a mesma série, mesmo sabendo que, na quase totalidade, irá visitar pela segunda, repisar pela terceira e, não raro, pela quarta vez, com um desempenho pior. e pouco ou nada se acrescentará a sua aprendizagem, o fato distorcido de haverem reprovado em nossa avaliação, somos ótimas nisso



pronto, lá se vem ela, novamente, Tem mais, quer saber a loirinha das havaianas, num esforço de mostrar-se interessada e sabida. ultrapasso a tudo com esforço, reencontro sofrimento e alegrias, estou falando de amor com vergonha, percebo tua presença e meu rubor, Música, pergunta nossa querida crente. já querem escutar música, até alguns minutos atrás não sabíamos o que aconteceria. já sabemos, Escutei o teu não e prefiro dormir. não me permitir lágrima em destroços de sobrevivente, nem sonhos fantásticos, Mandar carta, o professor abá comentou algo sobre mandar mensagens e todos querem saber como se manda uma carta, não acreditam ser tão fácil. a realidade implacável me chega num clarão de tempestuosidade e engole, Pra ir pelas águas não precisa de barco, perguntam todos incrédulos. como se poderia navegar sem barcos, Caminhar sobre as águas não é tarefa para qualquer um. exige muito treino e uma fé que possa remover montanhas, nossa fé não chega pra tanto, só consegue nos trazer até a escola. eu, em minha crença, apenas transpiro e sobrevivo invisivelmente imobilizada nestes momentos iguais, mas não estou vingada na coragem absurda do meu grito, não te pertenço, estou brilhando novamente, Pra quê vai servir... Se eu não sei lê. não entendem porque ela não é parecidinha com as gostosonas da televisão, os chinelos são havaianas, falsas, ela é toda falsa, inclusive os dentes, invisíveis e cheiram mal

o dinheiro educa o filho do patrão, compra o aparelho dos dentes, buçal embelezador

o dinheiro do patrão não tem ajudado o povo, Já ajudou algum dia com generosidade, Nunca

hoje vou dormir angustiada, mais uma vez




_____________________________

Leia também:


Teatro Pedagógico: a escola do povo
Parábolas de uma Professora

Nenhum comentário:

Postar um comentário