sábado, 3 de outubro de 2015

Histórias de avoinha: somos um acampamento militar


Ensaio 63B – 2ª edição 1ª reimpressão


baitasar




Sinhô Padre...

aquele chamado manso não deu aviso de importância nem parecia ter risco de nada, mas foi o começo de uma guerra civil. Não é logo, é mais adiante. Mas é inevitável como o vento. Basta conhecer verdadeiramente os homens. Uma luta está se soltando das mãos de homens cautelosos e caindo no colo dos imprudentes. Um vento de matar e morrer. Jovens e velhos. E mulheres de solidão. Esperando homens que jamais voltam. Vestidas de luto escutando o vento. As lágrimas salgando os pés. Depois do seu início e da primeira morte não tem como saber quando acaba nem como termina. Não tem como saber o que voltará. Não é uma brincadeira. Todos sabemos que teremos muitas lágrimas para cada desaparecido do corpo presente. A cancha da luta receberá o nome de campo sagrado. Hipocrisia. Um campo de simulação, traição e desesperança. É o lugar da maldade vestida de enganação. Declamaremos versos das mortes de homens esfarrapados com a dignidade de cavaleiros. Mortes honradas. Destroços perambulando sobre escombros humanos. Vidas que não honramos. Pedaços arrancados de viúvas e filhos que nunca nascerão. E a solidão do luto apodrece e fede para sempre no campo sagrado da morte com honra. Homens que não voltam porque desmancham no campo da honra. O campo da morte. Não tem conversação. O lugar-comum de matar quem está pela frente. Em nome da honra sem dó nem piedade. Resigne-se e mate. Não fuja. Amoleça e morra. Não corra. Cortar. Furar. Acertar. Enfiar. Afogar a terra com o sangue derramado do inimigo. Lanças. Adagas. Canhões. Espadas. Bodes estraçalhados. Esfarrapados. O silêncio da morte. A conversa dos corvos com a carne desarranjada. Estragando. Arranque-se a língua do poeta que canta a honra de quem arranca os pedaços que jamais voltam. A guerra é macabra. O ódio é macilento. A raiva é ensinada pela má-criação

Sim...

quando o sinhô respondeu não sabia que essa maldição descontrolada de matar e morrer estava começando. Afinal, o seu trabalho de lugar-tenente é nos convencer que é melhor rezar. É bom rezar. É importante rezar. Quisera que as palavras evocadas ou sussurradas nas rezas fossem de agradecimento. Ao falar, porém, o seu rebanho mostra uma prática oposta. Egoísta. Enfadonha de tão egoísta. Astutos. As loucuras fortificam, aqui e ali, dobram com ódio e medo as resistências prudentes das pessoas. O egoísmo e a ganância  soltam suas amarras do bom senso, perambulam de mãos dadas na villa. Companheirismo de adesão entre os compadres que saem juntos para matar. A vida de um depende da vida do outro. O noticiarista apenas fez soar o alarme com aquela pergunta despretenciosa

O que o sinhô tem para nos dizer sobre o imposto em benefício da igreja?

pronto, foi dado o alarme. O sinhô não conseguiu responder. Não lhe deixaram. Mas deu para perceber o seu aborrecimento. As assombrações e os caprichos escondidos na loja da irmandade se libertaram. Os logistas explodiam como balões de xingamentos. Infelizes. Descuidados. Arrogantes. Insensatos. Gritavam e mostravam as palavras gritadas com o gosto frio do ódio e da raiva aprendida. Pena que a solidariedade em cima da carreta, na paleteada, no jogo de bocha, na roda de chimarrão não é coisa de bacuri. Jogo do osso. É de pequeno que se entorta o pepino

Outro imposto, não!

no meu feitio de ver, o sinhô estava do lado certo, o lado de construir a obra santa. E com o dinheiro dos fiéis. Acho justo. Eis um princípio excelente. Ser justo. Justiça justa.  A justiça é justa e respeitada quando é para todos. Mas nós sabemos que a justiça depende mais da pólvora do que dos livros. Até que o sinhô tentou esclarecer com um entendimento amistoso. O defeito nessa hora foi a sua fala mais mansa que a oportunidade do esclarecimento. O sinhô demorou para endurecer a voz

Esse imposto não é em benefício da igreja. É para a construção da nova igreja. É em benefício dos cordeiros de Deus. A pergunta do Noticiarista não foi bem formulada. Não sei qual foi a sua intenção. Não é ajuda que vai ficar para sempre, termina com o acabamento da obra. E faço questão do consentimento de vosmecês.

as palavras do sinhô não foram ouvidas, os bodes continuavam cheios de condenação e azedume. Bode é bode e cordeiro é cordeiro. Não era conversa, mas uma desconversa penosa que precisa ser recuperada. Confesso ao sinhô que duvidei da sua competência para lidar com o estouro da tertúlia de bodes

Nada temos contra a igreja, mas mais imposto, não!

não falavam com bondade, a lógica da irmandade se recusa acabar com a fome ou subir as paredes da obra com seu dinheiro. Tanto faz se tem ou não fome na villa. Não tem diferença. o seu discurso intimida. Abominam qualquer conta a ser paga se não for em interesse próprio

Não será aprovado pela Irmandade! Não passa! É injustificável!

zumbiam

Não queremos outra igreja. As famílias de respeito e boa índole da Villa já têm a sua igreja. Cobre dessa gentalha comum e sem gosto. Faça essa sua outra igreja com o dinheiro deles.

zelavam

Ou faça mais horários de missa. Reze mais missas!

zoavam

Isso, a vereança pode votar uma lei estabelecendo os novos atendimentos e quem pode comparecer nos horários aprovados.

a lógica da bondade sem gritos

Mais imposto, nunca!

o mais exaltado engasgou. Foi socorrido pelo sinhô, o padre lembra? Um bom tapa e duas sacudidas. Caso o sinhô padre não se zangue, gostaria de saber se aquele tapa nas costas foi de salvação ou acusação

Chega chega, obrigado obrigado. Lutaremos até à morte! Não é pessoal, sinhô Padre.

mentira de homens e mulheres que lutam até à morte sem poupar vidas. É pessoal, sim. Hienas rondam em bando a carniça, disputam como abutres o despojo da luta. É pessoal e coerente com a prática do palavreado dos bodes

Não iremos pagar essa conta! Chega!

mais fingimento, nunca pagamos ou pagaremos conta alguma. Mas sempre impuseram suas condições. Eu também

Calma, sinhô Duque dos Moinhos de Vento.

Qual é o seu limite, Padre?

bem, chegou a hora do acusado falar. O sinhô foi chamado. E precisou sair debaixo do vestido de viúvo para o bem ou para o mal dos gritos. Até que o sinhô tentou, mas o seu aliado não se apresentou. Acho que a ideia é quanto menos conhecerem o seu Comandante melhor rezam

Que Deus abençoe a vida de todos. E que essa conta a mais seja o instrumento para o milagre de Deus nas vossas vidas. Não olheis para o dinheiro como um fim, mas a oportunidade da manifestação da Glória de Deus!

cada um com as suas armas, o seu deserto e os seus costumes. A sua digestão é o que vosmecê come ou reza

Chega!

Cuidado, sinhô Duque...

o padre não parecia menos disposto para as conversas, mas acho que acertou quando subiu o tom das palavras, tem vez que o palavreado precisa ser carregado com dureza, Não desagradeça ao Sinhô Deus, ele continua fazendo parte da Villa, cuidando de todos que amamos.

os rostos amáveis da degola do bode desapareceram, o duque moinhos de vento subiu ainda mais o tom da desconversa, os dentes rangiam, achei que fosse precisar dos seus tapas nas costas, O quê? Ameaçais todos aqui? Nossas famílias foram ameaçadas?

sem um passo atrás, o sinhô reafirmou as regras e as vontades divinas, A Igreja é Deus e enquanto viveres da Casa de Deus obedecerás as regras de Deus. Quando tiveres tua própria casa estabelecerás tuas próprias leis. Na Casa de Deus não governa o Imperador nem o Governador Presidente da Província. Somos irmãos pela graça de Deus e seu Filho que morreu na cruz para nossa salvação. Eu aceitei o seu chamado e o privilégio da árdua tarefa de conduzir o seu rebanho de ovelhas...

Bodes, sinhô Padre. Rebanho de bodes!

Como queriam. Eu aceitei o privilégio e a tarefa de conduzir os bodes do Sinhô, através deste mundo imundo de pecados e despudor hipócrita. Adquiri assim, as obrigações de pai em nome do nosso único Deus. Não posso ser amigo e complascente nem posso me permitir conversa de comadre ou de jogar fora, ou de pescador, ou fiada, ou mole para boi dormir, ou aquela conversa do tipo que vai e vem, ou com as paredes, ou com a garrafa, muito menos com o travesseiro, sou o pai em nome do Pai Filho e Espírito Santo. E isso é mais importante que ser amigo. Só temos um Deus, amigos podemos ter muitos. Mas Deus é um só. Na casa do pai se faz o que o pai diz, não contestamos nem disputamos sua autoridade porque tudo que eu mando, não sou eu, mas o amor do Deus que é Pai. Poderá ser difícil para vocês, mas assim será. Acreditem na misericórdia e na palavra de Deus. Confiem no seu amor.

o sinhô retomou o seu poder, pelo menos, parte dele. O magistrado tomou a palavra antes que a temática fosse além da trama aceitável, o sinhô tava com empolgação de pai de tudo. Ele precisava lhe colocar um freio e fez uma generalização, não podia lhe esvaziar da política. Mas precisava lembrar a favor de quem e do quê, portanto, contra quem e contra o quê precisamos lutar e rezar, Cavalheiros! Sinhô Padre! Quero lembrar que estamos reunidos para a cerimônia do batismo de mais um bode. E ele já está no meio de nós. Rejubilemos, nós que lutamos ao lado da benquerença. E parem com o descaso e o desrespeito para conversarmos sobre os donativos da nossa igreja. Não é admissível que nossa Villa não tenha outra Casa de Deus com o porte da nossa matriz. Diga-se, a bem da verdade, ela já não comporta todos na domingueira. Não gostaria de lembrar, mas é bom não esquecermos que já tivemos caso de muito desconforto com a falta de assentos reservados para alguns vereadores da Câmara. Mui gente, mui misturança. Vamos convencer os outros das nossas evidentes boas intenções. O Perjuro e o Noticiarista ficarão encarregados da campanha dos esclarecimentos. Afinal, não é essa a função informativa do Noticiarista com o seu pequeno impresso O Realista? Ele é pago por esta associação para informar e convencer a gente valorosa da Villa sobre as nossas boas intenções. Ideias e sentimentos em que todos precisam acreditar e defender e agir em nosso nome. Não esqueçam que a história que existe e importa são os acontecimentos que construímos pela nossa continuidade. Nossas crianças precisam da nossa verdade e o reconhecimento do óbvio, somos a intenção de quem tem o poder.

o pensamento sai e volta a esmo, às vezes é puxado pelo acaso, outras é empurrado sem rumo, encilhado nas águas do lembramento sem fim. É da vida que as coisas da vida sejam com animação ou assombração. As coisas da morte não têm lembrança. Os espíritos não têm lembrança, eles são as lembranças. Não é fácil saber quando destoamos das lembranças. É mais fácil quando a mentira se torna verdade. Procuro evitar a monotonia de escutar e falar as mesmas coisas. Embrabecido. Gosto de negociar. O padre gosta de vigiar e perdoar. É bom variar a coleção de cura com as lembranças dos espíritos. Eles podem ser amparo ou cachaça, nossa dominação está nisso

O quê o Pensavento escuta tão parado com as vistas no rio?

o aconseiadô acordô das preocupação, ele tava com o siô padre na frente e dentro da caixa dos pensamento, voava nas lembrança da reunião da irmandade na otra noite: como as borboleta voa na flô do jardim enflorado com munta cô e perfume. Esvoando. As lembrança indo e voltando

Muito barulho, sinhô Padre. Esse ofício de aconselhador me trás a obrigação de lembrar das conversas e acordos feitos, bem como, saber das outras confabulações escondidas. Traições. Muitas vezes me falta audição, mas não posso me entregar como se não houvesse o depois.

Sempre temos o depois, meu amigo. Entendo a sua preocupação. Temos ofícios parecidos. Mesmo quando o antes não existe mais, não posso esquecer que existiu. O pecado sempre me chega no passado. Algo que existiu e pode continuar nas conversas do pensamento com bisbilhotice, sem compromisso, com exagero, bazófia, entediante, sem solução final, embriagado, para si mesmo, poucos procuram refletir melhor pesando sua responsabilidade. Sem o medo temos a corrupção das boas intenções, o pecado vem antes da mordida

Ele é premeditado como uma técnica? Podemos reconhecer, à primeira vista?

Todos somos culpados.

os dois continuava parado nas borda das água, elas vinha e ia, nunca desistia de chegá e partí. Uma depois a otra. As veiz braba, otras mansa, Padre, somos bons em matar. E não queremos morrer. Somos melhores em embolsar do que oferecer. Quem somos, afinal?

Egoístas, meu amigo. Humanos sem humanidade. Ainda precisamos conceber nossa humanidade. Tudo o que oferecemos só o fazemos porque desejamos a recompensa.

E quando o outro nada tem além da vida para nos oferecer?

Ele paga com a vida. Pegamos o que dizemos que nos pertence. E quase sempre não nos pertence. A vida do outro não nos pertence. Ela pertence à Deus. Somos a indiferença com as mãos nos bolsos. Ordenamos grandes ordens inúteis. Testamos a obediência.

o siô é santo
no reino do pai
o siô é santo
da virgi santa
no reino do pai
o fiô é santo
o defunto da maria
depois de morto
o espritu subido
rei seria

a última renião da irmandade não foi um bom sinal, o padre deve lembrar dos acontecimentos. Os estancieiros do charque e do couro não conseguiam acerto de qualidade com o governo imperial. Os mandantes da villa estávamos reunidos para concentração nos trabalhos de governança. Já era coisa passada a festa para receber com braços abertos o conde da hora e o seu compromisso de bode com as coisas de comportamento e modos de educação dos associados e irmãos. Todos da mesma raça: bode é uma raça de bicho de estimação. Festa concorrida e regada com sangue de bode e vinho. Eu prefiro vinho, o padre também. Beber sangue é coisa de filho-da-puta! Desculpe, padre

os associados estabelecemos e ajeitamos as leis que não andam ou não dão muito certo. O padre sabe dos cuidados para fazermos leis novas. Temos leis que estão adiante dos costumes, não é lá muita coisa, e mesmo assim foi coisa aborrascada de mexer. Não são muitas. Na maioria dos casos, os costumes estão adiante das leis. Coisa mais braba de alterar. O padre sabe que em muitos casos o tamanho dos passos não pode ser maior que o comprimento das pernas nem menor que o jeito de andar. Precisa ter a justeza da necessidade dos associados. Tudo sem muita novidade. Quanto menos mexemos, melhor

a notícia nova foi o batizado desse rapaz, o tal da hora acertou um belo tiro. Foi feito conde pelo casamento com aquela mocinha, filha do conde antão, sinhá casta. Herdeira das terras da fazenda humaitá. Deitar na cama da moça deu ao rapaz posição de prestígio na villa. Assim, ele ganhou também o lugar do conde antão na confraria da paz, sossego e harmonia. A confraria é a villa que é a confraria. O que uma quer a outra também quer, o que uma não quer a outra também não quer. Foi preciso levar mais de uma ano bem cheio, desde a morte do velho antão, mas o rapaz foi chamado para ocupar o lugar do conde humaitá. A morte pega tudo e pegou o antigo posseiro das terras do caminho novo nas margens do rio. O conde antão foi o único dos grileiros da nossa serventia que acreditou naquele banhado. O padre lembra das palavras dele, terra é terra pouco importa se com muita ou pouca água. A dona casta esperou mais que o tempo do luto, depois precisou convencer o padre que o marido era homem mui leal e valoroso, o padre lembra

O amigo Pensavento está se referindo aos donativos para nossa igreja?

Se o Padre diz...

Pensavento, doação é doação, não posso virar as costas. A igreja e a Villa precisam de homens e mulheres de muita fé, desapegados da ganância e dementes de Deus.

Prontos para servirem do contrário de serem servidos: as suas palavras na domingueira.

Foi o que disse, um homem com gosto de servir sem a vontade de se servir das riquezas da Villa.

Essas mesmas palavras o Padre repetiu na domingueira seguinte, na outra seguinte, até que aconteceu o reconhecimento que faltava para o rapaz.

Pensavento, o que está dito está feito.

depois veio o batizado. O bode degolado. O sangue. O vinho. Os juramentos. E a reunião seguiu para frente, era preciso obedecer a ordem do dia. Eu entendo. Tinha os assuntos dos calçamentos, a discussão da iluminação pública, a distribuição do chão para as casas na volta da rua dos pecados, as despesas de lenha e alimentação, a nomeação do tabelião do público, judicial e notas, a abertura de um caminho para as tropas de animais, Só acho que é muita miudeza para a Irmandade examinar ou essas doações estão comprando mais que umas terrinhas no Paraíso?

O amigo Pensavento deve saber, depois que a capela-mor da igreja e os anexos consistórios foram construídos, a imagem da Nossa Senhora foi transladada para a novíssima capela. Uma cerimônia linda com acompanhamento de tropa e procissão. Passaram-se os anos e muito pouco da obra foi além. Instalou-se a Prisão Militar, recebemos a visita pastoral do bispo do Rio de Janeiro, um terreno foi doado para a construção da igreja do Rosário, ali na rua da Bandeira. E veja, a pedra fundamental já foi lançada enquanto a nossa obra avança muito pouco.

Sinhô Padre, uma saída pode ser o aumento de 20 réis da aguardente fabricada ou ampliar um tributo de 20 réis sobre cada alqueire de farinha de mandioca.

Ou os dois, Pensavento.

Pode que sim, pode que não seja preciso.

Meu amigo, vamos caminhar pelo trapiche.

o embarque e o desembarque das mercadorias tinha movimento abundante e animado. A gritaria do comércio dava cobertura para nossa conversa, Belíssima ponte d’alfândega.

Obra-prima. Não há outra em todo esse lado das águas que nos separam e protegem da Corte Portuguesa com suas vontades de continuar a nos subjulgar.

Vinte e quatro pilares de cantaria pelo rio adentro.

Isso mesmo. Um avanço para o desembarque tanto de iates e sumacas com uma carreira de 325 palmos de comprido e 30 de largo.

Sem dúvida, uma bela obra defronte da Casa d’Alfândega.

O amigo acredita que a vereança aprova o aumento destes tributos?

parei meus passos, um negro com um saco de açúcar nas costas me obrigou a parar. O padre parou-se também

É coisa que se ajeita. É uma pena que não temos sol em abundância nas terras da beirada do mar. É uma lástima que não construímos nossos engenhos nem plantamos nossa cana-de-açúcar. Negros temos em abundância.

Pensavento, essa não é a vocação desta terra. Não maltratamos nossos negros. Nos basta os negócios com o charque, o couro e o contrabando de gado.

E a guerra!

É o preço da violência contra os espanhóis.

Isso é assim mesmo, Padre. A apropriação da terra pelos particulares mediante o saque e a violência. Essas disputas e impugnações em torno da posse de Sacramento e das Missões. Danem-se esses castelhanos!

A consequência disto é uma terra em permanete estado de alerta com muitas forças irregulares.

o sol já estava amanhecido e aquecia além do agradável. Já se parecia como um defeito

Na verdade, o amigo sabe que o governo central aprecia esses estancieiros e seus homens. São nossas primeiras tropas de linha. Prontas para soarem o alarme de alguma invasão castelhana.

É isso, somos um acampamento militar. Além das terras que lhes é concedida, os estancieiros ocupam cargos de chefe e guardas da fronteira.

Esse é um arranjo perigoso.

O Governador sabe que os estancieiros têm exercido esse poder, na maior parte das vezes, em defesa de seus interesses particulares. É preciso constantemente contornar o choque com a autoridade dos comandantes militares que defendem os interesses do governo central na Província.


É o começo de uma guerra civil.


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