quinta-feira, 7 de maio de 2015

Histórias de avoinha: A revanche de siá Casta

Ensaio 49B – 2ª edição 1ª reimpressão



baitasar


O conde num respirô nem piscô pra dá sua replicação de obediência e agradecimento, inté pareceu gostá de fazê gosto, mostrá sua humilde servidão a importância do chamamento, sempre foi do palpite qui tem hora da valentia e otra da covardia, sem teimosia birrenta, Não quero de maneira nenhuma incomodar Vossa Excelência com minha visita de insignificância, a sala continuava escurecendo, cada assopro espantava o iluminamento, parecia qui os ânimo de assoprá as vela num acalmava. O desaluminá ficava maió de tamanho e mistério, mas lá estarei para ouvir seus conselhos, seguir seus passos de sabedoria e justiça, num corô de vergonha e se ficô acerejado num deu pra vê, quase lembrô de perguntá da necessidade de tanto negrume e escondição. Num quis lembrá, tem coisa qui num é bão lembrá.

É certo qui ele num tinha motivo nem atrevimento pra mostrá mais valô qui o governadô da província, bastava o sabô íntimo do convite público recebido e a inveja qui num via, mais sentia, Não se preocupe com as insignificâncias, sinhô Conde. Deixe que eu decida o tamanho da migalhice de cada um. Afinal, o cidadão tem um preço que faz de si e um valor que recebe dos outros, quase sempre a serventia é menor que a proteção, parô a conversa, esperô a colocação do pequeno mirante qui dois preto carregava, numa distância segura, pra tudo qui era lugá de aparição do governadô. Eles num podia se torná um estorvo nem criá uma espera demasiada, atento esperando um aviso, um gesto, um ruído, qualqué coisa. Os dois era entendido de meneio do governadô. Tinha veiz qui eles errava, otras eles salvava. Numa das veiz, eles errô quando o governadô fez o siná da cruz, teve qui repetí o siná de cima do terraço, toda corte precisô fazê. O siô padre qui tava do lado, num pode subí no palco e fez a reza debaixo pra cima. Mais já teve veiz qui o ruído dos vento preso no ventre saiu intempestiva e as ventosidade continuô saindo do mirante. É isso, a gente tá nesse mundo pra errá e acertá. Subiu os dois degrau. De fato, agora já oiava de cima o conde com uma presunção natural, quase involuntária, dessas qui acompanha a fidalguia qui nunca deve explicação, mais tem medo de deixá de sê superiô, credite mifioneto, essa gente qui nunca precisô tê amedrontamento, vive com medo de precisá dá esclarecimento, Vou lhe mostrar uma chibata matadora. Essa acaba com o negro mais desgraçado e desaforado, parô o discurso de novo, baixô a cabeça inté roçá o hálito do vinho no conde, sussurrô aborrecido, já cansado daquele feitio de usá a voz rouca e arrastada do demônio, essa chibata faz gosto de assuntar com o ladrão mais filho-da-puta, seja da cor que tenha.

Vô dizê o qui eu vi, ocê credite se tivé vontade de creditá, o siô conde num caiu das perna medrosa, mole e sem força, ali mesmo, na frente de todos aqueles convidado, assustado como guri cagado, porquanto o espritu do véio Ermo da Hora apareceu atrás do fiô. Agarrô o guri pelas cintura e segurô firme, num deixô ele perdê o respeito, o conde parecia desenho solto no vento. A noite quase terminô ali, ele num conseguia retorná as vista na direção do demônio. Sabia qui tinha o oiá assustado. Sacudiu a cabeça concordando, mais num disse palavra, num quis arriscá, elas ia saí com jeito de vigarice, tremida e espremida. Agarrô com força os dedo na mão, fechô os dedo. Botô toda força qui tinha nos dois punho fechado. Num ia caí em nenhuma armadilha. Ergueu as vista inté oiá na direção do governadô. Só então, o espritu do véio da Hora soltô a cintura do guri e deu dois passo de distância, sorriu com a missão cumprida e foi puxado pelas mão. Num respondeu logo, antes foi inté o fiô e sussurrô um qui otro recado da siá Casta. E desapareceu, de novo. Os aviso da siá Casta encheu as lembrança do conde, Vosmecê não esqueça que vence quem entrar na imaginação do outro, fazendo acreditar que a mentira é verdade, lembre que brincar de esconde-esconde com os olhos vendados é fácil, vosmecê só precisa ficar espionando.

Sinhô Governador, a voz do conde foi mais um suspiro qui uma resposta de concordância, mais, pelo menos, ela já tinha voltado, estou a mercê de Vossa Excelência, e tava mesmo, num era mentira. A siá num parava de avisá, Meu esposo, não seja imprudente. Todo cuidado é pouco com aqueles que fazem você duvidar de si mesmo. Não mostre o fundilho das calças. Cuidado com o costume de sentir grandeza em demasia, quando vosmecê se deparar com autoridade de maior grandeza não vai resistir a tentação de se submeter com mais facilidade que o recomendado.

Esses aconselhamento de siá é bão num tê esquecimento, mifioneto. Tome os cuidado necessário com as medida de grandeza e despojamento, nenhuma coisa nem otra; em demasia, só as prontidão da vida com bondade, num deixe de fazê cafuné com cautela e precisão inté o corpo ficá em chama. Ocê pode obedecê com doçura, mais sem escondê o seu valô, se proteja das depravação afetada dos mandão, eles tem os demônio nas entranha, tudo neles é antinatural, presta atenção qui inté algum banho de lágrima se parece um completo deslumbramento. Espera, um dia a panela destampa e os qui acha qui manda descobre qui é mandado

Lembre-se, meu caro Conde, o acanhado não se enfrenta do mesmo jeito que o inimigo apreciável. Espero o Conde, amanhã?

Era certamente impossível se recusá, mais o conde num se conteve de mostrá o seu lado cívico e bajuladô, Um convite de Vossa Excelência é uma ordem, nem terminô de dizê o qui disse e fez com a boca um abrimento de surpresa: uma luz iluminava a cabeça do mandão. Uma chance em mil do fato acontecê, mais aconteceu. Aquilo lhe obrigô lembrá do falecido pai qui também tinha sido iluminado e esclarecido sobre as coisa qui precisava sê feita na Villa. Uma iluminadura divina, concordô sem discussão. Os dois tinha o mesmo destino

Bobagens, sinhô Conde. Pare de repetir o que lhe ensinaram. Não me olhe assim, como se eu fosse um novelista intriguento, falso e tolo. Não estou lhe ordenando nada, é apenas um convite, continuava sorrindo com o gosto vago de quem pode tudo, uma fidalguia nobre e ardente pra si mesma, ou seja, o conde egoísta é só uma caricatura tolerável, uma forma engraçada; especial, só ele, o governadô. A palavra mais alta só do hôme no mirante, o sinhô Conde já ouviu as histórias do bandeirante Domingos Jorge Velho?

No salão num tinha murmúrio de afetação nem de susto. Nem desrepeito. Os hábito da reunião num tava se criando de novo, já vinha de muito tempo antes. Purgatório e renovação. Paciência e submissão. A presa nas garra do predadô. Um num tinha pressa, sabia qui podia escolhê a hora do banquete, o otro num sabia se já tava em carne viva. Num sabia se a dô qui sentia era da morte ou de sê comido. Entre eles os espritu qui num se solta das riqueza da fortuna: egoísta, cruel e intolerante; os nervo do conde volta ficá forte, solene e rigoroso, Claro, sinhô Governador, já ouvi muitas histórias desse grande homem. Devemos muito do que somos a ele!

O conde sabia qui era o brinquedo daquele salão, num ia fazê murmúrio de susto nem de afetação. Lá tava o sorriso misterioso no mirante com a iluminura divina, pronto pra lhe desafiá ou devorá, Pois consegui a chibata do velho Jorge, um acerto da sorte com a oração e o valor justo. O destino precisa ser ajudado para fazer justiça aos homens do bem. Esse foi um grande homem, um destemido que gostava de caçar os teimosos. Um bravo, sem nenhuma dúvida. Mas um Capitão descuidado que estragou muita mercadoria.

Um desbravador, foi a resposta uivada pelos demônio do salão. Um grito só. Um aviso. Eles tinha fervô e paixão pela memória do sujeito. O hôme pequeno continuava no seu terraço particulá, virô-se pro amontoado de gente boa da Villa, e fez um aceno, inté os assopro nas lanterna parô. Os assopradô teve qui engolí as ventania qui ia fazê. Num se sabe onde foi pará a ventilação qui num foi feita. As coisa qui tinha qui sê feita e num é feita, onde fica? Num se sabe onde fica, um dia mais ou menos elas aparece como mexerico ou um vento melancólico qui nunca teve uso, deselegante, inesperado e enche a parte qui ficô vazia, esperando a vida acontecê

Meus amigos, o tempo irá reservar um lugar de honra para esse grande homem, entre nossos heróis, o governadô parô o discurso e oiô direto nas vista do conde, o bandeirante matadô tava dentro da imaginação daqueles hôme, ele era o intruso, o recém-chegado qui gozava pouco respeito, nossas crianças precisam conhecer suas histórias, elas são a continuação do nosso jeito elevado e discreto de viver, a voz do hôme no platô encheu de gritos o salão, a Irmandade uivava a proclamação

Viva Domingos, o Velho!

Viva!

Outro viva para nossas crianças!

Viva!

É assim qui a fidalguia faz, cria uma roupa qui os preto tem qui usá pra toda vida, se num usá as coisa pode piorá. O siô conde levantô as mão e acompanhô os grito de viva! Aos pouco uma esperança de ódio foi se acendendo, Vosmecê carece beber um bom vinho e tagarelar mais por aqui... junto da nossa má influência, inté os assassino da milícia do véio Jorge deu gargalhada do convite do governadô

Eu aprendo rápido, sinhô Governador, mas foi muita sorte depois de tanto tempo encontrar tal relíquia, o siô conde conhecia as história do bandeirante matadô, num esquece qui na luta do medo contra a esperança vence quem entrá na imaginação do otro, num esquece qui o medo faz tudo pra ocê creditá qui a mentira é verdade. Inté ocê repetí qui num existe a verdade, é tudo mentira. Pensa com avoinha, se tudo é mentira, a mentira também num é verdade, truquice dessa gente, eles qué qui ocê credite na verdade qui eles jura qui é verdade, e qui avoinha amaldiçoa. A verdade dessa gente, é a verdade dos espritu ruim qui vive das trinta moeda da traição do qui é bão, do qui é de todos. Pode creditá qui tem gente assim, qui vive já morta. Esse siô véio Domingos, no seu tempo, montô a própria milícia e ficava com disposição pra atendê a meió oferta. Os branco tinha medo dele. Os índio pavô, degolava os índio. Esses num tinha lucro se prendia, então num prendia. Os preto tinha otro valô, mais o gosto de fazê eles sofrê ganhava do prazê do lucro. O dinhêro num compra tudo. Os preto qui ele num arrebentava era preso. Arrastava aos grunhido, grito e lágrima. Os qui se defendia morria com seus grito alucinado, Esse é o único destino decente para esses negros antinaturais, aqui, nesta colônia portuguesa, negro bom é o negro acorrentado, marcado com a minha chibata, nunca deixô de exigí participação nos saque. Uma milícia de hôme analfabeto e descalço qui meteu medo inté nos fazendêro e usinêro, quase acabô com os índio. E desconjuntô mais preto qui colocô de volta nas mão dos dono, Os amigos nem têm muito do que reclamar, cada negro que volta arrastado ou caminhando impede a fuga de outros dez, no mínimo, ou quem sabe, mais de cem, ele mais valia pros branco pelo terrô qui esparramava nos preto

Essa é de um tempo em que as coisas eram feitas para durarem...


Viva!

Naquele salão cheio de botas e riqueza, vazio de anjos, o conde num precisava se contorcê muito pra elogiá um matadô assanhado. Num tinha ningém, naquele salão, nem ele conhecia gente qui creditava na ingenuidade santa, lugá no céu pros mais sofrido. Sua gente creditá na otra porta, a vida eterna com mais conforto. O deus da Irmandade num se contenta com bagatela nem qualqué bocado repartido, ele é tudo, ele qué tudo, é o deus qui vence o mal, sem lástima, mágoa ou pena. É só frieza e indiferença, o bem é a Irmandade, o mal é os preto
os pobre
as puta, essa escória qui num tem salvação, num tem dente, num tem boniteza, num sabe escrevê nem falá, eles fede. Eles num precisa nem da água pra limpá os pecado, num sabe usá o sabão da vida eterna.

O siô conde oiava o salão desfigurado, ainda num sabia como era o começo de tudo, ele tava ali pra sê iniciado, mais sorriu, naquele salão num tava o fim de tudo. Ele havia de tê o qui siá Casta costurô com todo cuidado, desde a morte do pai, o conde Antão. Tava pronto o indiciamento do conde Afonso da Hora na Irmandade. Ele tava pronto. A siá Casta mesma cobiçô sê da Irmandade, chegô se oferecê pra esse começo solene e reservado, no lugá do pai, mais foi avisada qui na Irmandade num era lugá de muié. Foi rejeitada.

O siô da Hora foi a sua revanche.




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