domingo, 1 de março de 2015

Histórias de avoinha: As Casa do Comércio na Villa 15

Ensaio 40B – 2ª edição 1ª reimpressão


baitasar



O nariz do siô da Hora voltô espetá pra frente, mastigava os seus aviso como um bão pai cismado, mais qui depois do desfecho anunciado com a própria boca não conseguia evitá repetí, Afonsinho, o papai bem que avisou ocê. E não foi amaldiçoamento... ouviu, menino? O traquejo é que ensina, a dor não deixa esquecer o castigo. O siô da Hora nunca esqueceu o pai. Lastimava não tê um fio pra tentá sê como o pai. Ele não era pai dos fio qui queria e tinha os fio qui não queria pra fio. O seu queixume não criô traquejo de pai, mais tinha gosto de assustá os otro, fazê anúncio tagarela dos apuro qui se podia encontrá pelos caminho portuguesmente, feito ao acaso. O boticarista foi o único qui não levô com seriedades seus aviso alarmista

A advertência foi dada e o desassombrado vai arriscar o rabo mesmo assim, outro remédio não há que perder a vida ou coisa pior, alguma feitiçaria, mirô o chão e cuspiu grosso e deselegante, um feitio qui tanto importunava siá Casta e tanto lhe fazia pedir mais cuidado de educação

O sinhô meu marido precisa aprender engolir saliva quando o lugar não for apropriado para suas cusparadas, a lembrança das palavra de reparo não lhe provocô desânimo, mirô mais adiante e cuspiu, aquela parte da Villa não parecia incomodada, são gente mais deselegante que as minhas cusparadas. Arranjô os pé no destino qui lhe aguardava e tava desaplicado em chegá, reviveu as conversa de atraso na obra-santa, otra cusparada. No seu modo de vê, não era atraso

Quando muito, existe um descompasso na vontade do sinhô Padre e o ânimo dos donativos. Os comerciantes e os fazendeiros não fazem gosto do abocanhamento de donativo. Acho que nem um gosto, e soltô otra cusparada e uma grande risada.

Não conversava mais com siá Casta sobre o desperdício dos braço e perna do Josino, o preto passava dia e noite enfiado na obra santa, sem falá nos donativo. Antes de emudecê o assunto, tentô mais uma, depois otra, e parô-se, a siá Casta lhe gritô com firmeza qui foi a família dela qui ajudô construí quase tudo na Villa, parecia tá desregulada das boa gentileza e costume de fala

Um negro a mais ou menos não tem grande diferença! Uma senhoria precisa cuidar da prosperidade e alastramento da sua obra. O caminho do progresso exige benfeitorias, não posso deixar de ofertar préstimo de ajuda para minha Senhora, ele inté tentô retrucá, mais sabia qui era irreparável e não ia tê mudança de vontade. Aquela ajuda dava alegria pra siá, mais criava no siô a vontade nervosa de recuperá parte do doado. Era seu instinto buscá escondido pelo rio, na noite escura, as prancha de madêra qui foi dada sem gosto

Essa ajuda não é de nenhuma ajuda, pelo contrário, me obriga correr riscos de recuperação de boa parte da doação, siá Casta não pareceu querê lhe dá ouvido ou tê algum aceno de preocupação

O sinhô meu marido faça sua parte, o meu papel eu mesma desempenho.

Pois, não parece, retrucô com raiva. Ele já tinha muito conhecimento da própria malvadeza, sabia qui era meió o silêncio, mais tava desgovernado, queria tá com sono e não lembrá daquela conversa da madrugada

Fique quieta, não se mexa...

Mas quem lhe ensinou isso?

Não preciso ser ensinado, sempre foi assim, ela parada em santo sacrifício, fria, seca, dolorida, embaixo do vestido leve e branco qui ele lhe jogô na nuca, nada entre ele e a sua vergonha

Vai demorar muito?

Não, acho que não... apenas um encaixe de macho, toda fêmea exige um macho poderoso, queria tá com fome, longe daquele fingimento cristão, num lugá de divertimento, fique vosmecê sabendo que o seu macho já fica pronto.

O filho que tanto quero... vosmecê e eu não sabemos fazer, resta esperar. Uma boa esposa não geme nem faz carícias, isso é coisa das putas. Carrego a fenda santa do matrimônio

Tu serás trespassada... continua de joelhos... tanto esforço para ser recompensado com um filho... uma planta que não tem flor nem fruto se parece só com ela mesma, erva daninha rasteira... pronto, tá feito, falô mais qui fez. Sabia qui o dito foi além do qui devia tê dito, já tava arrependido. Ela escutô e não fez nenhum movimento, assim como tava desenfiada, ela ficô. Depois acomodô as costa na cama, os pé parado, as mão perdida do lado do corpo dolorido, a boca fechada, e as vista qui já pareceu uma caixa de fósforo, tava desanimada

Do meu ponto-de-vista, acho que se vosmecê quisesse já tinha feito por merecer esse filho, falava com o desgosto da raiva qui fez ficá os joêio doído, a donzelice ardida

Foi quando aconteceu qui dentro e nos arredó dos dois despencô das boca o pacto do padecimento silencioso

As negras não acham nada difícil fazerem esses filhos, nas contas que tenho são doze bastardos, no mínimo.

Pode ser só um truque de feitiçaria das criolas, piscô e sorriu estranho, ele não viu na escuridão qui ela tava pálida e desfigurada, parecia tê mais idade da vida qui tinha. Foi a última veiz qui os dois deixô a raiva saí descontrolada bocafora. Os recado tava dado. Era tempo de dá tempo pro tempo. Ele virô de lado e fechô as vista, ela continuô caída de costas na cama, as vista grudada mais longe qui podia, mais não podia muito. Tava com um gosto muito amargo na boca, sentiu sede e não levantô. Era noite de ficá quieta esperando a semeadura. O qui já era pouco não queria arruinado. Queria tê o mesmo descaso

Amanhã, vou para a Villa. A tal reunião do sinhô Padre... escutou, ela não respondeu, tava fingindo o seu sono de descaso. Então, foi verdade qui ela não escutô, tava dormindo. Continuava cada dia mais fundo na camada grossa de segredos qui não podia contá. A solidão do claustro sem palpitação, abatida e perdida. Os dois tinha mais qui perdê com o descarrilamento do descaso um com o otro, o desgosto com o gosto amargo do aborrecimento. O qui já era pouco pareceu tá arruinado.

No amanhecimento escorregô da cama e saiu, não tinha o qui dizê.

Ali tava ele, no rumo daquela reunião qui roubava seu tempo precioso. Aceitô o convite pra fazê conserto dos tempo sem alegria de cama e assunto do palavreado. Tinha vontade de esbravejá o desperdício dessa reunião, mais fez silêncio, pensando melhor, as coisas até podem não serem tão ruins assim. Caso, não seja necessário alongar as conversas daquela reunião estúpida, ainda posso aproveitar o fim da noite no covil das putas, esfregô as mão, uma na outra, deu dois passo de dança com contentamento.

O siô da Hora tinha muita estima pela casa de Maria Cobra, um lugá de tá sem preocupá qui tá. Ela já tinha servido seu mingau na própria taça, uma tempestade de mulher, o siô da Hora falava sozinho, tem vez que amedronta, sabe usar com dedicação as próprias carnes como nenhuma das outras moças. Todas com beleza e juventude, mas nenhuma com o feitio da Cobra. Uma mulher de verdade, foi conquistado pelo alvoroço, os desarranjo, os gemido, o motim das vista, ela sempre fez com perfeição um fingimento depois do otro. Não dava pra sabê. O siô da Hora não dava importância, tava lá por ele. Só ele importava.

As lembrança de Maria Cobra lhe aviva os passo, a caixa dos pensamento se abre, se a sinhá Casta pega uma ou duas aulas com a Cobra, não, é melhor não, caminhava os passo do caminho e assumbiava, se a sinhá Casta parasse a cisma com os meus mestiços, isso é muita coisa, eu sei. Continuava o caminho nas rua desabitada de gente, só esses negros! à noite tomam contam das ruas...

Entrô com as bota num redemoinho de bosta, meu São Benedito, quanto mais eu rezo mais encontro bosta para me difamar, elas estão mais sujas que pau de galinheiro, parô pra se revistá. Empurrô as vista pros lado da beirada do rio, mais desistiu, vou mais rápido se não me desviar. Ninguém mais nas ruas, só essa negrada, era na noite qui a ralé e os preto lampejava com as cantoria, conversa de algazarra, os falatório inventado, as benzedura de cura, as encruzilhada, na noite eles tinha vida, olerê, olara, blábláblá, lá vem meu orixá.

Os branco entrichêrado nos casarão sonhava os pesadelo do medo e os falatório, o desconhecido aumenta a desordem do sossego, as feitiçaria, as bebida destilada, arma de cortá, as preta e as puta. Jurava qui as preta era o demônio, não podia deixá elas entrá na cabeça. Apressô os passo, corria mais qui o tempo só pra tê alguma hora com as moça cobiçada de Maria Cobra, todo homem é um escravo da vontade do cravo martelar na ferradura.

A aparição pareceu um assalto de ataque

Mais um vivo sem alma, foi o dizê do sió da Hora, no seu julgá de branco bão, cuidadoso com a vida qui tinha, quando oiô o preto acendedô da iluminação pública da Villa, esse criolo pode não ser bicho, mas gente é que não é.

O Camará Farol ia nas rua acendendo as laterna qui iluminava os caminho. Baixava a lanterna das casa com seu varapau de gancho, depois era só examiná os vidro, raspá a cera se tivesse precisão de limpeza, colocá vela nova, queimá o pavio, e pronto, alevantava a iluminadora inté a casa. A lanterna ficava pendurada na altura de um camará e meio, tinha um corpo qui não cabia medida.

Tem veiz qui as vista enxerga mais qui existe ou vê menô do qui é, tem precisão aprendê oiá pra vê o qui não vê; mais quem só vê o qui não vê, só vê o qui qué mostrá. É preciso tê clareza pra vê o qui vê e o qui não vê, mais quem só vê o qui vê, tá vendo só o qui qué se mostrá. É preciso tê gingado no corpo, o jogo é malicioso e mandingado. É jogo de aparentá, escondê e revelá

O que é isso, o siô da Hora levô otro susto do tamanho do seu medo escondido. Saiu do poste um preto menó qui os ombro do Camará Farol, mais maió qui um gato pardo, merda! estou amaldiçoado, vem bicho do demônio!

Calma, siô, é só um menino, o Camará Farol sabe qui é preciso tê acautelamento. Tratô de acalmá o siô da Hora, depois chamô o guri, vem camaradinho, assim ocê assusta o chicote e a arma de atirá do siô.



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