sábado, 14 de dezembro de 2013

X – Mitologia dos Orixás: Orixá Ocô [82]

Orixá Ocô
Reginaldo Prandi
Orixá Ocô cria a agricultura com a ajuda de Ogum
No princípio, havia um homem que se chamava Ocô. Mas Ocô não fazia nada o dia todo, não havia o que fazer, simplesmente. Quando os alimentos escassearam na Terra, Olorum encarregou Ocô de fazer plantações. Que plantasse inhame, pimenta, feijão e tudo o mais que os homens comem.
Ocô gostou da sua missão, ficou todo orgulhoso, mas não tinha a menor ideia de como executá-la. Até que viu, debaixo de uma palmeira, um rapaz que brincava na terra. Com um graveto ele revolvia a terra e cavava mais fundo. Ocô quis saber o que fazia o rapaz.
“Preparando a terra para plantar, para plantar as sementes que darão as plantas”, explicou o rapaz de pele reluzente.
“Que sementes, se nem plantas ainda há?”, perguntou incrédulo, Ocô.
“Nada é impossível para Olodumare”, foi a resposta.
Começaram então a cavar juntos a terra.
O graveto que usavam como ferramenta quebrou-se e passaram então a usar lascas de pedra. O trabalho, entretanto, não rendia e Ocô saiu à procura de alguma maneira mais prática.
Outro dia, quando Ocô voltou sem solução, o rapaz tinha feito fogo, protegendo-o com lascas de pedra. Viram então que a pedra se derretia no fogo. A pedra líquida escorria em filetes que se solidificavam.
“Que ótimo instrumento para cavar!”, descobriu efusivamente o inventivo rapaz.
Ele pôde então usar o fogo e fazer lâminas daquela pedra, e modelar objetos cortantes e ferramentas pontiagudas. Ele fez a enxada, a foice, e fez a faca e a espada e tudo mais que desde então o homem faz de ferro para transformar a natureza e sobreviver.
O rapaz era Ogum, o orixá do ferro.
Juntos revolveram a terra e plantaram e os alimentos foram abundantes. E a humanidade aprendeu a plantar com eles. Cada família fez a sua plantação, sua fazenda, e na Terra não mais se padeceu de fome.
E Ocô foi festejado como Orixá Ocô, o Orixá-da-Fazenda, de plantação, pois fazenda é o significado do nome Ocô.
E Ogum e Orixá Ocô foram homenageados e receberam sacrifícios como os patronos da agricultura, pois eles ensinaram o homem a plantar e assim superar a escassez de alimentos e derrotar a fome.
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Leia também:
IX – Mitologia dos Orixás: Iroco [79]
XI – Mitologia dos Orixás : Orô [89] [90]

Reginaldo Prandi, paulista de Potirendaba e professor titular de sociologia da Universidade de São Paulo, é autor de três dezenas de livros. Pela editora Hucitec publicou Os candomblés de São Paulo, pela Edusp, Um sopro do Espírito, e pela Cosac Naify, Os príncipes do destino. Dele, a Companhia das Letras publicou também Segredos guardados: orixás na alma brasileiraMorte nos búziosIfá, o AdivinhoXangô, o TrovãoOxumarê, o Arco-ÍrisContos e lendas afro-brasileiros: a criação do mundoMinha querida assombraçãoJogo de escolhas e Feliz Aniversário.


Prandi, Reginaldo. Mitologia dos Orixás / Reginaldo Prandi; ilustrações de Pedro Rafael. - São Paulo: Companhia das Letras, 2001.

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