quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

A doença da castidade

Ensaio 29B
baitasar
Mi fioneto, quem manda, por qui manda e como manda, sempre desinteressô essa preta velha, não sabia qui não sabê ou não querê sabê, fazia as coisa ruim ficá mais errada e triste, e as coisa boa só contecê pro patrão e os muito amigo dele. Dos conhecido pra baixo, não sobra ninguém qui não tem reclamação pra fazê do sinhozinho, o dono dos criado. Mais qué sabê, mi fioneto, pió qui não sabê é sabê errado, é se informá com os informante do patrão. Cada palavra qui sai do esconderijo - na garganta do enganadô das notícia - tem o mesmo caso pensado: botá na cabeça dos afoito desprevenido o conhecimento enganado, veneno qui mata aos pouquinho. É trabalhoso separá os bão das erva daninha, tem qui pensá no qui vê e no qui não vê, escutá o qui ouve e o qui não ouve, sê um bão ouvidô. O silêncio dos informante enganadô é o desenho da sua obediência. Eles só grita quando o patrão deixa, esconde os grito qui o patrão não qué escutá. Todo mundo tem patrão, não esquece, uns obedece mais qui os outro, mais ninguém deixa de obedecê, se deixá de cumprí as ordem tem qui sê castigado, tá escutando mi fioneto, Tô... a Avó não vê que tô no trabalho de cobrador das passagens, Ocê pensa qui sabe, mais o qui ocê sabe pode tá errado, ocê precisa conversá sobre o qui tá descobrindo, pra podê escutá, fazê o balanço dos conhecimento da própria cabeça e as notícia qui tá fora da cabeça, ocê tá me escutando, Tô, mas a Avó tem qui saí da roleta, Bobagem, tu mais parece com os preto do tempo do Josino, contando o numerário da riqueza pros dono branco, pelo menos, os preto da escravidão não tinha muita escolha: aceitá as marca da chibata e seguí vivendo té onde podia, ou fugí, ou roubá, ou matá, ocê tem a esperança da escola, Exagero seu, a Avó tem esse costume de abusá na quantidade do despropósito, Pois só paro as incomodação quando ocê prometê saí desse serviço e voltá estudá, Preciso dá no jeito de vivê: anão, preto e pobre, não tem muitos convites, Pois fica pió se não estudá, A Avó tá sentada na mesa do troco, preciso fazê minha obrigação, A sua obrigação é terminá os estudo, sê alguém preto na vida, incomodá os branco com a sua brilhantura e mostrá pros preto qui dá de conseguí, Vô pensá, vô pensá. O carro dos passageiro já começava ficá com mais movimento da entrada qui da saída, O mi fioneto qué ouví o fim da história do Josino, A Avó vai parar se eu fizé pedido, Não, Então, por que a Avó pergunta, Educação, mi fioneto, educação não qué dizê consideração demasiada, tem coisa qui é preciso dizê e ocê precisa escutá
—        O sinhô Padre chamou?
O padre se virô, tava na acomodação precária daquela sacristia em construção, um lugá qui precisava sê dentro, mais qui no tempo do erguimento tava fora da igreja. Um lugá de guardá os enfeite, as roupa da missa e o vinho. Ele tomava o cálice nas mão com o vinho qui era seu costume bebê, antes ou depois do almoço, tinha vez, qui tomava nas duas vez, antes e depois. O vinho lhe era gracioso e uma dádiva tê sido ajuntado à imagem do Siô Menino Deus, mais certo dizê, misturado no sangue do Siô da Cruz, assim, ele podia juntá o útil ao agradável.
O tomadô do Vinho Santo não tinha cisma nem vacilação qui o Siozinho foi espetado na Cruz, nem tinha desconfiança de creditá nas palavra do Fio de Deus: o sofrimento é o Caminho da salvação, A Avó não acredita, Queria sabê onde foi os preto qui morreu de apanhá, fome, adoecê e não tê cuidado de ajuda, Deve de tá tudo no céu, Um paraíso só de preto, Não, o Paraíso é um só, Hum... a mão qui segurô a chibata tá no mesmo Paraíso dos preto... hum... vantajoso isso, será qui tem escravo no Paraíso
O siô padre ofereceu um cálice do seu vinho. O visitante agradeceu e estendeu a mão. A fama da gostosura do vinho do padre precisava sê apreciada
—        Na verdade, sinhô Ouvidor-Geral do Governador, não chamei ninguém, fiz um pedido de audiência com sua Excelência.
O ajudante das ordens dada pelo governadô, com as tarefa de também escutá as reclamação de toda província, e mui especial, escutá as gente de importância da Vila, não se incomodava ou importava, qui no fim das coisa é igual, com as reclamação do reclamante de querê falá nos ouvido do governadô sem a intermediação do ouvidô. Sabia qui era assim, não se desgostava de não tê interesse pra quem protesta, mais aos poucos, ele mesmo, ia resolvendo os caso com decifração mais fácil, sem precisão do entendimento do governadô. Ele era o secretário negro do governadô, qui pouca gente ou quase ninguém soube, filho de uma escrava forra com um oficial da cavalaria do exército imperial. Um pardo qui podia escolhê sê preto ou dizê sê branco, de acordo com as conveniência
 —       Sinhô Padre, não quero parecer pretensioso nem desaforado, na verdade, fui nomeado os olhos e ouvidos do Governador, enquanto sua Excelência se mantém afastado, por motivo de repouso, e, se ele assim o quiser, fala através de mim.
Subiu o cálice com o vinho qui tinha na mão té o nariz, fungô dum lado e otro, depois olhô firme a aparência da tintura e levô à boca o enfeite de sangue da missa. O padre repetiu a parte de levá à boca. Tomô um trago, depois, parecendo mais aliviado, retomô o começo da conversa
—        Essa sua tarefa me parece um grande desafio, uma imensa confiança.
O pardo não se apressô em respondê, continuava com o vinho na boca, apreciava o gosto. Fechô as vista enquanto empurrava a existência duma bochecha à otra, té qui engoliu em silêncio, solitário.
Abriu as vista, parecia tê gostado
—        É justa a fama que tem o vinho do sinhô Padre.
O siô padre mediu o pardo pelo conhecimento do vinho, não era um qualqué, tinha gosto e confiava nele mesmo, sabia escutá o gosto do céu da boca. Não respondeu ao elogio. Ficô quieto, sabia qui o ouvidô não tinha terminado de dizê o qui queria dizê
—        Quanto a mim, sei que não sou feito o vinho, uma bebida romântica, não sou sonhador, me contento em ter a utilidade da água e não desperdiçar a fé do Governador. Parecido com o sinhô Padre, que não pode enfraquecer a Fé no trabalho do seu Sinhô.
O siô padre achô qui tinha chegado à encruzilhada da confiança: se tem confiança ou não se confia. A confissão é uma confiança qui os ouvido do siô padre faz escutação direta da falação do penitente com os ouvido do Siô da Cruz. Um jeito de ajudá o Siozinho, qui foi pregado pra modo de sê escutado, entendê as maldade feita: a chibata, a fome, a salmoura nas ferida, as corrente, a fogueira, a estupidez, o ódio da cô. Todo domingo tem arrependimento
—        E o sinhô Ouvidor-Geral tem alguma ambição que gostaria de realizar?
O pardo estendeu o braço com o cálice na mão. O siô padre tornô a tirá a rolha da boca da garrafa e, desta vez, encheu o copo da visita
—        O sinhô Padre é mui generoso. Obrigado. Eu tenho a vontade de chegar a ver de perto a Nossa Majestade Imperial, seria estar perto, bem perto, do pai que não tive, entreouvir ou lamentar o sentimento prazeroso de conhecer meu pai.
O siô padre precisô se acautelá pra não saí do seu costume de tomá só um cálice do vinho
—        E o arrependimento, o sinhô tem algum arrependimento que pudesse falar?
O vinho empurrado duma bochecha té a outra, voltava e ia, té qui ia descendo
—        Não chega a ser um remorso, mas não atendi o chamado que achava ter escutado.
O siô padre não resistiu à vontade de serví o seu cálice, tem vez qui o sangue fala mais alto e ocê repete aquilo qui jurô não respetí, inda bem, qui nas domingueira existe o modo de podê fazê da lamentação um sinal de arrependimento
—        E que chamado foi esse?
O pardo estendeu o braço com o cálice na mão, novamente. O siô padre retornô a tirá a rolha da boca da garrafa e, otra vez, encheu o copo da visita. Fez o mesmo com o seu cálice, afinal, nada melhó qui bebê com os amigo. O vinho aproxima as vontade e destrava a coragem
—        Não cumpri o chamado que achava ter escutado para ser padre.
O vinho não parava mais nas bochechas, descia direto da boca té a garganta, continuava descendo té subi pra cabeça
—        Bem, isso é uma surpresa.
As bochechas avermelhadas, o hálito quente, a euforia
—        E por que não atendeu ao chamado?
O pardo não sabe se qué confessá o pecado da traição: um peso a mais, um peso a menos, não ia mudá a força qui tinha qui fazê pra continuá indo em frente. Talvez fosse o vinho, ou não, ou a fala mansa do siô padre, pode sê qualqué coisa qui ocê acha de dizê qui é, e ele se confessô
—        Acho que o chamado não foi suficiente e claro. Por outro lado, o chamado das mulheres não deixava dúvidas, convincente e insistente. Fiquei com a convocação das mulheres. E o sinhô Padre nunca teve esse chamado?
O confidente levantô, como se algum vestígio desse tempo tivesse batendo na sua porta das memória, deixô o graal sobre a mesa, caminhô té a porta da sacristia. Os trabalhadô escravizado subia e descia com as pedra e as madeira, o vinho escorria das costa

—        O sinhô não acha uma bobagem criar nos padres a doença da castidade?
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