sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Uma garrafa de vinho

Ensaio 23B
baitasar
O padre apontô o crucifixo no peito, levava a Eternidade pendurada, o castigo bem à vista aconselhava acautelá os pensamento e as atitude, ele convocava com desembaraço a Cruz nos juramento, assim, não precisava anunciá com muitas palavra o robusto carvalho da verdade, Um dia que pode custar, mas pode não demorar muito, vamos ser adubo do milho, e a nossa alma uma oferenda à misericórdia de Deus, o padre fazia ameaço com o dia do julgamento sem dizê a ameaça, sabia não precisá mostrá o inferno
—        Vosmecê acredita em Deus? Onde estará o sopro da sua coragem?
O siô Menino não gostava de ficá empurrado de costa na parede e cercado pelos lado. Aquele rumo da conversa lhe pareceu envenenado pelo cobiça, se o padre não fosse padre, ia arriscá pensá qui ele tava investigando com segunda intenção
—        Eu e a dona Casta não perdemos um domingo, estamos sempre na missa da manhã. E olhe que a viagem é longa, sinhô padre.
Nem o siô Menino sentiu satisfação com a resposta dada, o padre achô qui ele tava brincado de esconde-esconde com a solução, sabia qui a resposta não valeu, deu chance da interrogação continuá té qui a compreensão pudesse aclará  o espírito do padre sobre as sombra qui carregava por dentro
—        Não foi o que lhe perguntei, vosmecê aceita por fé ou acredita por acreditar?
O siô Menino tinha fé no qui podia vê dá resultado, Eu tenho fé na chibata, nas correntes para prenderem os negros, acredito nos poderes da Maria Cobra, essa mulher consegue me endoidecer, mas não acredito que sou louco por conta das paixões desregradas, elas me guiam e me estimulam à vida, acredito que as mulheres me salvaram de ser um monstro abominável, um rei na barriga, agora vem esse padreco querer minha confiança nas palavras dele, prefiro ficar calado e não desafiar o desabusado, não quero arriscar a excomunhão
—        Não desacredito, nunca deixei de fazer o sinal da Cruz, é como uma proteção da bondade.
O segundo maió dos três encapuzado qui tinham feito o juramentado jurá, pareceu impaciente com aquela investigação atrasada, tirô o capuz. O siô Menino não quis arregalá as vista, mais sabe qui não controlô, o desembrulhado era o doutô Garganta, o acusadô dos criminoso da Vila
—        Padre, essas perguntas deveriam ter sido feitas antes...
—        Eu sei, mas...
O doutô Garganta não tava disposto em mantê aquela polêmica com o padrinho do siô Barros, por isso, desviô sua atenção do padre e perguntô à queima-roupa
—        Senhor Barros... Deus é um sentido ou uma ideia?
O siô não tinha resposta praquele desafio, Mas que merda é essa, se perguntô, queria saí dali, mais não podia silenciá, precisava arriscá dizê alguma coisa
—        Ele é tudo.
O acusadô encarô o siô bem de frente, as vista na frente das vista, procurava alguma coisa, qualquer coisa, qui pudesse usá pra fazê desfeita do feito, desmerecê o juramentado, té qui se deu por satisfeito e anunciô ao padrinho
—        Agora, padre, só nos resta fazer o acontecido acontecer.
O siô Menino Barros Cabral, conde Humaitá, tava aceito, ele agora era um bode na loja da Vila. Mais um estúpido ou bem-aventurado, não queria se perguntá, não queria trapaceá a resposta, nem queria esclarecê
—        Bem senhores, vamos relaxar com um bom vinho.
Os dois mascarado qui restava acabaram com a fantasia de mistério: o maió de todos era o visconde Madeiro, juiz da Vila, o homem encarregado de fazê justiça cega, enxergá a verdade no lugá qui tivé, sem vaidade ou medo das fofoca, preocupado com a aplicação das leis corretamente, fazê o certo livremente; e do lado, tava o menô de todos, o coroné Sião, chefe das pulícia, encarregado de mantê a ordem e os bons costume, ainda tava com as mão suja com o sangue do bode
—        Me ajuda com as roupas.
A preta chegô perto da branca, ajudô soltá as camada qui a siá usava por cima da sua brancura. Desde a outra vez, Milagres não fez mais a siá descarregá as vontade da carne, não tinha lhe visto sem as roupa de sinhá patroa. Agora, tava usando as vestimenta de mulhé. A pele branca aviva a abundância dos pelo preto nas virilha
—        A siá qué qui lhe apare os pelo? — a sinhá patroa queria dizê qui não, mais tinha a sinhá mulhé qui queria aceitá, qui sim, ela podia
—        Se deite qui lhe faço o serviço sem demora.
—        Não. É melhor que fique assim. — os bico roseado parecia envergonhado das vista da preta Milagres. Enrubescido e duro. Olhava com os olho no chão, como se pudesse escondê a vontade de deitá com a siá, mulhé qui parecia as água se debatendo nas rocha. As água enchendo as fenda qui nenhum homem conseguia dominá, té qui qui a fenda se transforma em mar e as profundeza domina tudo qui respira.
A siá lhe deu as costa e caminhô té as água, a preta Milagres ergueu as vista, Vô me deitá com a mulhé branca, tava decidida, ia roubá as vontade da mulhé do siô, ia tê a sua escrava. A mulhé branca entrô na banheira de louça, mergulhô toda na água perfumada, afundô. Quando voltô olhá na volta, a mulhé preta tava no lado da siá, toda preta, brilhando de vontade. As duas se olha com as vista erguida de frente, té qui uma deu a mão pra outra, as água juntô as duas mulhé, cantando, dançando e provocando, a fúria do apetite prendeu as duas na profundeza da fenda. O descontrole tomô conta das água do mar. O balanço do navio negreiro rasgava os negro acorrentado, o porão escuro e apertado, o peso das corrente, a dô nas lágrima. Não, nenhum branco ia entendê a dô das corrente em meio ao nada.  
Quando saiu da loja da Irmandade, a rua da Igreja tava toda iluminada com as lanterna, cumprimentô um qui outro cavalheiro qui disputava as calçada e o pavimento da rua, não tava disposto pra fazê conversa mole, queria sentí os perfume das moça da Maria Cobra, quanto mais se conhecia as moça, mais tolerante se ficava com as moça. Fez cumprimento de despedida e mirô na direção da rua dos Pecados
—        Boas noites! — seguiu té a rua do Cotovelo e desceu pra rua da Ponte, pelo beco do Fanha. Atravessô a rua da Ponte, continuô a descida té a rua da Praia, dobrô na direção da Arsenal. Ia com um pequeno assovio evaporando dos lábio, tava na direção certa, Um sujeito que nada faz como se estivesse pra morrer, no dia seguinte, nada valia, ele tinha plano, mesmo no caso de morrê no outro dia, havia de tê continuação. Precisava tê plano, e o propósito, agora, era visitá as moça da dona Cobra, mulhé de valô e jeito com as mão.
Amanhã, té podia não existí pra ele, não existí continuação, mais não lhe passava nenhuma desistência, pelo contrário, sentia qui o sangue lhe subia pela virilha e lhe inchava. Os colega da Irmandade qui lhe perdoasse, no caso de querê perdoá, A vida se vive na cama do amor, nada é maior, nem tem melhor gosto, o perfume do amor cura qualquer tristeza, o siô té tem juízo de julgamento da vida, qui arriscá anunciá sempre qui bebe vinho além da sua conta de aguentá, Não se leva nada desta vida, só as lágrimas dos amores na cara do defunto, antes de fechar o ataúde.
Acariciava a garrafa de vinho no bolso do casaco, seria mais apreciado pelas moça qui pelos bode da Irmandade.

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Leia também:

Ensaio 22B - Os filhos do Criadô do mundo e os bode

Ensaio 24B - O amô qui se carrega nos bolso


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